O IPCA-15, considerado a prévia da inflação oficial, recuou 0,14% em agosto, após alta de 0,33% em julho, segundo dados divulgados pelo IBGE. Foi a primeira queda desde julho de 2023 e também o menor índice em quase três anos, ficando abaixo das projeções do mercado, que esperavam retração de 0,19%.
Com o resultado, o acumulado em 12 meses caiu de 5,30% em julho para 4,95%, marcando a primeira vez desde fevereiro que o indicador ficou abaixo de 5%. No ano, a alta acumulada é de 3,26%. O desempenho foi influenciado principalmente pelos grupos Habitação, Alimentação e Transportes, que apresentaram quedas expressivas.
O que puxou a deflação do IPCA-15?
A principal contribuição negativa veio de Habitação (-1,13%), impactada pela queda de 4,93% na energia elétrica residencial. O efeito do bônus de Itaipu, somado a reduções tarifárias em algumas capitais, compensou até mesmo a cobrança extra da bandeira vermelha. Já a alimentação apresentou recuo de 0,53%, sendo a alimentação no domicílio a mais afetada, com queda de 1,02%.
Entre os destaques, os preços de frutas e hortaliças caíram de forma acentuada: manga (-20,99%), batata-inglesa (-18,77%), cebola (-13,83%) e tomate (-7,71%). Carnes e arroz também recuaram, reforçando o alívio no bolso do consumidor. Nos transportes, houve queda de 0,47%, puxada por combustíveis e passagens aéreas.
- Habitação (-1,13%)
- Energia elétrica residencial: -4,93% (bônus de Itaipu + reduções tarifárias).
- Alimentação e bebidas (-0,53%)
- Alimentação no domicílio: -1,02%.
- Principais quedas: manga (-20,99%), batata (-18,77%), cebola (-13,83%), tomate (-7,71%), arroz (-3,12%), carnes (-0,94%).
- Alimentação fora do domicílio: +0,71% (lanche +1,44%, refeição +0,40%).
- Transportes (-0,47%)
- Gasolina (-1,14%), automóvel novo (-1,32%), passagens aéreas (-2,59%), etanol (-1,98%).
Quais setores apresentaram alta no IPCA-15?
Apesar da deflação, alguns grupos tiveram variação positiva. Despesas pessoais subiram 1,09%, influenciadas por jogos de azar (+11,45%). Saúde e cuidados pessoais avançaram 0,64%, e Educação registrou alta de 0,78%. Regionalmente, São Paulo foi a única área com aumento (0,13%), impulsionado por cursos regulares e higiene pessoal, enquanto Belém teve a queda mais acentuada (-0,61%).
- Despesas pessoais (+1,09%) — destaque para jogos de azar (+11,45%).
- Saúde e cuidados pessoais (+0,64%).
- Educação (+0,78%).
O que dizem os especialistas sobre o IPCA-15?
Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, a queda trouxe surpresas positivas, com a inflação anual já abaixo de 5% antes do esperado. Ele destacou, que a difusão proporção de itens que subiram de preço, aumentou de 51% para 57%, o que exige atenção. “Acredito que neste segundo semestre devemos ficar em torno de 5% em 12 meses. A dúvida é quando o Banco Central vai começar a cortar os juros”, afirmou.
Já Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, ressaltou que o resultado veio alinhado às projeções, mas a abertura mostrou algumas surpresas. Cursos regulares e passagens aéreas tiveram impacto maior que o previsto, enquanto combustíveis foram superestimados. Para ele, o dado pode ser um sinal de cautela para agentes que defendiam cortes antecipados na Selic. “Ainda que o headline tenha vindo em linha, a abertura foi mais ‘salgada’ do que sugeria o índice cheio”, avaliou.
Na visão de Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, o recuo refletiu fatores conjunturais e não uma tendência de longo prazo. “Sem o bônus de Itaipu, o IPCA-15 teria mostrado alta de 0,06%”, destacou. Ele ponderou que a inflação deve voltar a girar entre 0,30% e 0,40% nos próximos meses, mantendo o índice anual próximo ao teto da meta. Agostini também chamou atenção para o cenário político e a possibilidade de o Banco Central ter de justificar novamente o não cumprimento da meta no fim do ano.
O que esperar da política monetária?
Os especialistas convergem na avaliação de que o IPCA-15 de agosto dá fôlego temporário, mas não garante tendência sustentada de desinflação. A leitura de que o resultado decorre em parte de fatores sazonais faz com que o Banco Central mantenha prudência em sua política monetária.
Enquanto Cruz aponta para cortes de juros possivelmente a partir de dezembro ou em 2026, Sanchez e Agostini reforçam que a autoridade monetária deve aguardar mais evidências antes de antecipar movimentos. Nesse sentido, o resultado de agosto pode aliviar pressões, mas não muda substancialmente a estratégia do BC no curto prazo.
O cenário segue de cautela. Por um lado, a queda nos preços de alimentos e energia trouxe alívio imediato; por outro, a alta na difusão de itens e os núcleos ainda firmes sinalizam que a inflação não está totalmente sob controle. O Banco Central continuará avaliando os dados de forma criteriosa.