O Brasil tem hoje uma presença relevante no mercado global de data center, mas ainda tímida em comparação às grandes potências. Com 188 data centers em funcionamento, todos voltados para serviços de nuvem, o país ocupa hoje a 12ª posição no ranking mundial. Esse número já demonstra a importância da infraestrutura nacional para o processamento e o armazenamento de informações, essenciais na economia digital.
O que ainda pouco se fala é sobre como os próximos anos podem marcar um novo capítulo desse segmento. A expectativa é de que o Brasil alavanque sua posição e assuma um lugar de mais relevância global, especialmente com a expansão de centros de dados voltados não apenas à nuvem, mas também ao treinamento de modelos de inteligência artificial. Esse movimento pode colocar o país no mapa da inovação e fortalecer ainda mais sua posição estratégica no cenário tecnológico global.
Essa discussão ganha relevância em um momento em que tecnologia e transição energética caminham juntas. Esse será um dos temas da COP30, que ocorrerá em novembro, em Belém (PA). O debate será fundamental para projetar como o Brasil pode unir sustentabilidade e avanço tecnológico, criando condições para se tornar um referência de data centers no futuro próximo.
Data Center no radar: quais diferenciais o Brasil oferece?
Para Marcus Vinícius de Oliveira, gerente sênior de projetos estratégicos da Engemon, uma das pioneiras do data center no Brasil, a matriz energética é um diferencial. “Nossa matriz energética é uma das mais limpas e robustas do mundo, com mais de 80% de geração renovável, o que atrai cada vez mais empresas comprometidas com a descarbonização. Além disso, contamos com forte conectividade global por cabos submarinos que nos ligam diretamente a EUA, Europa e África, garantindo baixa latência e resiliência”, afirma.
Além disso, o tamanho do mercado também é destaque. Segundo Reinaldo Kazuo, diretor de engenharia e construção de data Center na Engemon, “São Paulo é hoje o maior polo de data centers da América Latina. Isso atrai empresas internacionais, que querem estar próximos de clientes e usuários.”
Dados de mercado reforçam a perspectiva positiva. O crescimento projetado para o setor brasileiro de data centers é de aproximadamente 12% ao ano até 2030, ritmo acima do observado em países considerados maduros. “Esse avanço se apoia na confiança de investidores estrangeiros, na presença de grandes players já instalados e em um arcabouço regulatório sólido, que inclui a LGPD e a atuação da ANPD“, avalia Marcus Vinícius.
Para Oliveira, caso o país avance em pontos de atenção como a complexidade tributária, a burocracia no licenciamento e a ampliação da oferta de energia em áreas críticas, “temos todas as condições de deixar a 12ª posição e figurar entre os 10 maiores mercados de data centers do mundo em até cinco anos, talvez até antes”.
Data center verde: o Brasil pode liderar essa corrida?
A sustentabilidade é um diferencial, característica que coloca o país em vantagem na corrida por data centers verdes. “Clientes estrangeiros já exigem a chamada garantia verde para operar no território nacional“, pontuou a Engemon.
Entre as soluções mais buscadas estão:
- Confinamento de corredores para otimizar a refrigeração;
- Resfriamento adiabático para reduzir consumo de água e energia;
- Liquid cooling, tecnologia cada vez mais essencial para suportar aplicações de inteligência artificial.
“Isso faz do Brasil não só um destino competitivo, mas também um exemplo de eficiência sustentável”, avalia Oliveira.
COP30 no Radar: Brasil está pronto para receber grandes data centers de IA?
O setor também observa com atenção os desdobramentos da COP30, que será realizada em novembro em Belém (PA). Para Oliveira, o encontro pode consolidar a imagem do Brasil como protagonista em tecnologia limpa e reforçar compromissos de descarbonização alinhados ao crescimento digital. “Nossa matriz renovável pode se tornar a base para uma liderança global no mercado digital e é um exemplo para o mundo”, destaca Marcus.
Na visão da Engemon, o país já está preparado para receber grandes data centers de inteligência artificial. “O primeiro grande indicador é a presença de empresas de engenharia com know-how específico, mão de obra especializada e forte bagagem técnica“, avalia.
Mas Kazuo alerta para um ponto a que o país precisa ficar atento. “O principal é garantir disponibilidade de energia em grande escala, já que os data centers para IA podem precisar de até 10 vezes mais eletricidade que os convencionais”, pontua. “Se o Brasil criar regras claras, previsíveis e alinhadas às melhores práticas internacionais, pode se diferenciar e atrair investimentos. Mas, se surgirem exigências sem base técnica ou excesso de burocracia, isso pode virar um entrave“, alerta.
O desafio imediato é acelerar a entrega de energia e simplificar o licenciamento. “Uma regulação bem construída pode se tornar diferencial competitivo, trazendo segurança jurídica e ambiental sem travar a inovação“, destaca Oliveira. Combinando expansão digital, sustentabilidade e oportunidades estratégicas, o Brasil se posiciona para transformar o setor de data centers em vetor de protagonismo global nos próximos anos.