A fusão entre Petz e Cobasi, que promete criar um dos maiores conglomerados do setor pet no Brasil, segue em etapa decisiva no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A Superintendência-Geral do órgão aprovou a operação sem restrições em junho de 2025, mas a concorrente Petlove apresentou recurso, alegando risco de concentração excessiva e possível sufocamento dos pequenos pet shops. O processo agora depende de avaliação do Tribunal do Cade, que poderá confirmar a decisão ou impor condições adicionais.
O setor pet brasileiro, em expansão contínua, movimentou cerca de R$ 77 bilhões em 2024, segundo a Abinpet. Do universo de 225 mil negócios dedicados a animais de pequeno porte, mais de 55% são microempreendedores individuais (MEIs), de acordo com dados do Sebrae Nacional de 2023. Nesse cenário, especialistas apontam que a fusão pode representar um divisor de águas para a competição em cidades médias e pequenas, onde os pet shops independentes ainda têm participação relevante.
Impactos no varejo local
O temor de especialistas e concorrentes é que a nova empresa, com forte capilaridade física e digital, ganhe poder de barganha significativo sobre fornecedores e pressione o ecossistema local. “Nas cidades menores, onde os pet shops independentes ainda têm relevância, a fusão pode gerar desequilíbrio. Fornecedores tendem a priorizar quem compra em volume, deixando o pequeno varejista em desvantagem”, explica Gustavo Biglia, sócio do Ambiel Bonilha Advogados e especialista em Direito Societário.
Biglia sugere alternativas para mitigar o impacto da concentração: “A adoção de programas de parceria com pequenos pet shops, transformando-os em revendedores ou pontos de retirada, além da expansão do marketplace digital com abertura para lojistas locais, pode tornar o ecossistema mais inclusivo”.
Já Vanderlei Garcia Jr., sócio do Ferreira & Garcia Advogados, destaca que os efeitos vão além do varejo: “A verticalização do negócio pode ampliar o poder de mercado sobre toda a cadeia, incluindo clínicas veterinárias próprias, planos de saúde animal, marcas exclusivas de produtos e centros logísticos”.
Estrutura societária e desafios contratuais
No desenho da operação, a Cobasi incorpora a Petz. Os acionistas da Petz receberão cerca de R$ 270 milhões em dinheiro e deterão aproximadamente 52,6% da nova companhia, enquanto os da Cobasi ficarão com 47,4%. A transação exige cláusulas claras para garantir governança, controle e responsabilidades na fase de integração, que envolve gestão de marcas, logística e cultura organizacional.
“Essa ação exige uma redação contratual precisa, capaz de refletir direitos de governança, mecanismos de controle e ajustes financeiros. A definição das responsabilidades pós-fusão é fundamental para evitar conflitos e assegurar que as sinergias previstas se concretizem”, ressalta Garcia Jr.
O papel do Cade e possíveis condicionantes
Segundo Fernando Canutto, sócio do Godke Advogados, o Cade dispõe de instrumentos para mitigar riscos concorrenciais. “Entre eles, a exigência de desinvestimentos, como a venda de ativos ou lojas para reduzir concentração regional, além de medidas de conduta, como políticas de preços não discriminatórios, neutralidade em programas de fidelidade e proibição de práticas predatórias”, afirma.
Canutto lembra que, após a decisão definitiva, o Cade não pode desfazer a fusão. “A Lei nº 12.529/2011 prevê que, uma vez autorizada a operação, a decisão é final, salvo em casos de vício grave no processo, como fraude ou omissão relevante de informações”, acrescenta.
Veja mais notícias aqui. Acesse o canal de vídeos da BM&C News.