Pressionada por juros elevados e por um ambiente externo mais turbulento, a indústria brasileira deve crescer menos em 2025. O Informe Conjuntural do 2º trimestre, divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) nesta terça-feira (19), revisou a projeção de crescimento da indústria de 2,0% para 1,7%. Por outro lado, a estimativa para o PIB foi mantida em 2,3%, sustentada por uma agropecuária mais forte e por um mercado de trabalho ainda aquecido, mesmo com os efeitos do tarifaço dos EUA sobre parte das exportações brasileiras.
Segundo Mário Sérgio Telles, diretor de Economia da CNI, a “composição do crescimento” preocupa. “Quando abrimos os números, identificamos um problema: os setores mais próximos do ciclo econômico, como a indústria e os serviços, têm apresentado um dinamismo cada vez menor.” Nesse sentido, a produção agrícola mais robusta e a resiliência do emprego ajudam a segurar o resultado do PIB; por outro lado, a qualidade desse avanço é menos favorável do que em 2024, com atividade industrial e de serviços desacelerando.
O que muda com a revisão da CNI?
A CNI aponta que a indústria de transformação, após crescer 3,8% em 2024, deve avançar apenas 1,5% em 2025. Além disso, a entidade vê a indústria da construção em alta de 2,2%, apoiada em obras iniciadas no ano passado e no desempenho do Minha Casa, Minha Vida. Enquanto isso, a indústria extrativa tende a acelerar para 2%, puxada pelo petróleo, e o segmento de eletricidade, gás, água, esgoto e resíduos permanece com previsão de 2,5%.
No setor de serviços, a expectativa é de crescimento moderado de 1,8% ao longo do ano. Por outro lado, a agropecuária deve liderar a expansão econômica com alta de 7,9%, favorecida por condições climáticas, produção animal e safra recordes. Nesse sentido, o “mix” de crescimento desloca-se para atividades menos sensíveis ao ciclo doméstico e mais conectadas à demanda externa.
Tarifaço pesa nas exportações: o que esperar?
O cenário de comércio exterior segue sob tensão. A CNI reduziu a projeção de exportações de US$ 347,3 bilhões para US$ 341,9 bilhões em 2025, uma queda de US$ 5,4 bilhões frente ao relatório anterior. Por outro lado, entre janeiro e julho, as vendas externas somaram US$ 198 bilhões, ligeiramente acima do observado em 2024 (US$ 197,8 bilhões). Nesse sentido, parte do crescimento observado em embarques da indústria de transformação para os EUA (US$ 19 bilhões, +7%) decorre de antecipações de compras diante da nova política comercial de Washington.
- Exportações 2025 (projeção): US$ 341,9 bilhões (−US$ 5,4 bilhões vs. previsão anterior).
- Importações 2025 (projeção): US$ 285,2 bilhões (revisão levemente para cima).
- Balança comercial: superávit de US$ 56,6 bilhões (queda de 14% frente a 2024).
Enquanto isso, a imposição de tarifas adicionais pelos EUA tende a desacelerar o fluxo de vendas da indústria de transformação brasileira. Por isso, Telles avalia que medidas compensatórias domésticas ajudam, mas não substituem o acesso ao mercado norte-americano para um conjunto amplo de setores.
Inflação, mercado de trabalho e contas públicas: o que projeta a CNI?
Até julho, o IPCA acumulou 5,2% em 12 meses. A CNI projeta inflação de 5,0% para o fechamento de 2025, ainda acima da meta de 3%. Nesse sentido, o Comitê de Política Monetária deve manter a Selic em 15% ao ano até dezembro, o que caracteriza política monetária contracionista e encarece o custo do crédito. Além disso, as concessões de crédito devem crescer 5,8% em termos reais, abaixo dos 10,6% observados em 2024, refletindo a combinação de juros altos e ritmo econômico mais fraco.
Apesar da desaceleração da atividade, o mercado de trabalho segue como amortecedor do ciclo. A CNI estima alta de 1,5% no número de ocupados em 2025 e avanço de 5,5% na massa de rendimentos reais. Enquanto isso, a taxa média de desocupação deve permanecer em 6%, menor patamar histórico pelo segundo ano consecutivo. Por outro lado, a manutenção desse quadro dependerá do comportamento de serviços e indústria na segunda metade do ano.
Na frente fiscal, a projeção é de déficit primário de R$ 22,9 bilhões em 2025 (0,2% do PIB), dentro do limite da meta, déficit de até R$ 31 bilhões (0,25% do PIB). Além disso, despesas primárias devem crescer 3,3%, contra alta de 2,2% da receita líquida, considerando arrecadação com IOF e leilões de áreas do pré-sal. Por outro lado, a dívida bruta continua em trajetória ascendente e deve atingir 79% do PIB neste ano, ante 76,5% anteriormente.
Principais números para acompanhar
- PIB Brasil: 2,3% (mantido); Indústria total: 1,7%; Agro: 7,9%; Serviços: 1,8%.
- Indústria de transformação: 1,5%; Construção: 2,2%; Extrativa: 2%; Eletricidade e gás etc.: 2,5%.
- Exportações: US$ 341,9 bi; Importações: US$ 285,2 bi; Saldo: US$ 56,6 bi.
- IPCA (fechamento 2025): 5,0%; Selic: 15% a.a.; Crédito (real): +5,8%.
- Ocupação: +1,5%; Massa de renda: +5,5%; Desemprego médio: 6%.
O crescimento de 2025 deve ser menos equilibrado, com maior peso da agropecuária e menor tração da indústria e dos serviços. Além disso, o tarifaço eleva a incerteza no comércio exterior, enquanto a política monetária restritiva limita o crédito. Nesse sentido, o desempenho do segundo semestre, especialmente nos fluxos de exportação e na sensibilidade do mercado de trabalho, será decisivo para calibrar as projeções e a percepção de risco sobre a economia brasileira.