O Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (18) trouxe uma novidade importante: a mediana das projeções para a variação do IPCA em 2025 foi revisada para baixo, ficando abaixo de 5,0% pela primeira vez desde janeiro deste ano. A queda de 10 pontos-base foi atribuída, em grande parte, à surpresa baixista do índice de preços ao consumidor em julho, que reforçou a percepção de alívio no curto prazo. Para o economista Maykon Douglas, “esse movimento reforça uma tendência de moderação da inflação, ainda que fatores domésticos e externos continuem a exigir cautela.“
Segundo Douglas, a leitura mais benigna do IPCA não elimina a necessidade de vigilância por parte do Copom. Ele lembra que há riscos relevantes no horizonte, como a possibilidade de manutenção da sobretaxa de energia elétrica no final do ano devido ao baixo nível de chuvas. “O mercado de trabalho segue aquecido e isso limita uma desinflação mais rápida dos núcleos de serviços, que ainda apresentam resistência em ceder”, avaliou. Nesse cenário, o efeito defasado da política monetária, combinado à recente depreciação global do dólar, contribuiu para a inflexão da trajetória inflacionária e, consequentemente, para a revisão das projeções.
Focus no radar: o que esperar da política monetária?
O economista pondera que, apesar do alívio nos números recentes, a condução da política monetária seguirá pautada pela cautela. A Selic continua projetada em 15% para 2025, o que mostra a percepção de que a flexibilização dos juros deve ocorrer somente a partir de 2026. “O Banco Central deve resistir à pressão por cortes imediatos, uma vez que as incertezas ligadas ao setor de energia e ao consumo das famílias podem reacender pressões inflacionárias no curto prazo”, destacou Douglas.
Além disso, o ambiente externo ainda impõe desafios adicionais. A volatilidade do dólar e o impacto das tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre alguns setores da economia brasileira são variáveis que podem alterar o balanço de riscos. Nesse sentido, as projeções apontam para uma taxa de câmbio em torno de R$ 5,60 por dólar até o final deste ano, sem grandes oscilações em relação às semanas anteriores.
PIB no Focus: um platô ou um limite?
Outro ponto destacado no Boletim Focus foi a manutenção da mediana do crescimento do PIB em 2,21% para 2025. Após a leve revisão para baixo de 0,02 ponto percentual na semana passada, o número voltou a se estabilizar. Para Douglas, esse patamar se consolidou como um verdadeiro “platô” nos últimos meses, refletindo tanto as limitações estruturais quanto as medidas de estímulo de curto prazo. “Apesar das tarifas e das recentes surpresas negativas em alguns indicadores de atividade, mantenho a projeção de 2,2% já há algum tempo”, afirmou.
O economista ressalta que o plano de contingência do governo ajuda a amortecer os impactos do tarifaço e que medidas como a liberação dos precatórios e a ampliação do crédito consignado devem sustentar o consumo das famílias no segundo semestre. “Esses fatores podem garantir algum fôlego à atividade econômica, mesmo em um cenário de juros elevados”, acrescentou.
Quais fatores podem alterar as projeções do Focus?
Apesar da estabilidade atual, Douglas alerta que o ambiente ainda é frágil. Ele cita como principais pontos de atenção:
- A manutenção ou retirada da sobretaxa de energia elétrica, caso as chuvas sigam escassas;
- A evolução do mercado de trabalho, que segue apertado e pressiona os preços de serviços;
- A condução da política fiscal, diante do desafio de equilibrar gastos e receitas;
- O cenário externo, em especial a relação comercial com os Estados Unidos.
Nesse contexto, Douglas destacou que apenas uma eventual retaliação do governo brasileiro às tarifas impostas pelos EUA poderia colocar em xeque a atual projeção de crescimento. “Qualquer escalada nesse front teria impacto direto sobre a confiança dos agentes econômicos e sobre a dinâmica do comércio exterior”, observou.