É consenso que, em tempos de polarização, os eleitores de centro, que têm comportamento pendular entre os candidatos de direita e de esquerda, são quem decidem as eleições. Mas há um outro tipo de eleitor, tão importante quanto os centristas, que também foram cruciais para definir o resultado dos últimos pleitos: os chamados nem-nem. Estamos falando daqueles cidadão que optaram por anular o voto ou por não comparecer às urnas. No segundo turno de 2022, por exemplo, 24,33% foram ausentes ou anularam seu sufrágio; já na última etapa das eleições municipais, foram 32,42% que tiveram a mesma atitude.
Ou seja, um volume substancial dos eleitores optou por não apoiar nenhum dos nomes que concorriam à presidência ou ao cargo de prefeito. No caso do pleito presidencial, que foi decidido por margem mínima (1,8%), qualquer mudança no comportamento dos nem-nem seria importantíssimo para definir quem iria ocupar o Palácio do Alvorada durante quatro anos.
Esse eleitor, portanto, precisa ser estudado com lupa nestes tempos polarizados. E motivá-los se tornou prioridade para os estrategistas políticos do Planalto. Neste sentido, a última pesquisa da Ipsos-Ipec apontou que apenas 28% deste extrato de eleitores acham que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez tudo o que podia para evitar o tarifaço de Donald Trump. A maioria esmagadora (64%) ou discorda totalmente ou em parte dessa afirmação (8% não souberam responder).
Trata-se de um banho de água fria para os apoiadores de Lula, que viram no tarifaço uma oportunidade para recuperar a popularidade do presidente, que caía insistentemente desde o final do ano passado. A recente pesquisa do Datafolha, que registrou índices altos de desaprovação, mostra que os brasileiros são contrários às tarifas e seus efeitos à economia nacional – mas não necessariamente passaram a apoiar Lula por conta disso.
Essas enquetes mostram que o descontentamento com o presidente da República tem raízes profundas, que precisam talvez ser explicadas por um time de sociólogos e cientistas políticos. Muitos podem apontar, por exemplo, o desempenho econômico para explicar a rejeição de Lula – mas o índice de desemprego está no nível mais baixo dos últimos anos. Outros podem apontar o antipetismo como origem dessa impopularidade; mas Lula lidera com 47,8% das intenções de voto contra 44,2% de Bolsonaro, segundo pesquisa AtlasIntel de julho de 2025. Em cenário com Tarcísio de Freitas, Lula aparece com 48,5% contra 33%, com uma vantagem ainda maior. Contra Michelle Bolsonaro, Lula mantém os 48,5% e vence por 18,8 pontos percentuais.
Portanto, impopularidade é uma coisa; intenção de voto, na polarização, é outra coisa. A missão da oposição é justamente transformar a desaprovação presidencial em rejeição na hora de votar. Talvez a pesquisa Ipsos tenha mostrado um caminho interessante: tentar convencer o eleitor nem-nem. O problema é que, até agora, a direita tem usado um discurso que sensibiliza apenas os convertidos. Para conseguir a vitória em 2026, contudo, é preciso entender melhor as raízes da desaprovação de Lula e os motivos que levaram um quarto dos eleitores a não querer nenhum dos candidatos que passaram ao segundo turno de 2022. Somente assim é que podem traçar uma estratégia vitoriosa e condenar Lula à aposentadoria política.