A economia brasileira enfrenta um momento de atenção diante da intensificação da guerra tarifária promovida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A política adotada pelo governo americano pressiona as taxas de juros longas e amplia a instabilidade no câmbio global. No Brasil, contrariando previsões iniciais de desvalorização, o real se valorizou para cerca de R$ 5,50, movimento sustentado pela queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela expectativa de uma possível vitória da direita nas eleições de 2026, com possível ajuste fiscal em 2027.
Segundo estudo da MB Associados, que utilizou um modelo estado-espaço bayesiano, o real está atualmente 6,37% acima do valor de equilíbrio, estimado em R$ 5,30. Os principais fatores para esse desvio são os termos de troca, com elasticidade de -0,6, e a dívida pública, com elasticidade de 0,584. Isso significa que um aumento de 10% na dívida eleva a taxa de câmbio em quase 6%. O risco fiscal elevado mantém o câmbio de equilíbrio em patamar alto, e 2026 é apontado como um ano mais arriscado para a economia nacional, caso Lula permaneça competitivo.
Quais são os impactos da guerra tarifária na economia?
De acordo com a análise, os objetivos econômicos do governo americano com o uso das tarifas são considerados inviáveis. A reindustrialização dos Estados Unidos esbarra em altos custos salariais e na concorrência internacional. Nesse sentido, o déficit comercial pode cair temporariamente, mas o comércio total tende a se reduzir. Do ponto de vista fiscal, a arrecadação adicional esperada é de US$ 300 bilhões por ano, valor insuficiente diante de um déficit próximo a US$ 2 trilhões.
Além disso, o pacote fiscal “Big Beautifull Bill Act” deve ampliar o déficit em cerca de US$ 5 trilhões em dez anos, reforçando a percepção de desequilíbrio nas contas públicas. A tendência é de um mundo mais fragmentado, com declínio da hegemonia americana e fortalecimento da China. A análise lembra que, historicamente, em 12 de 16 transições hegemônicas houve ocorrência de guerras, o que aumenta o risco geopolítico e gera incertezas para a economia global.
Oportunidades e riscos para a economia brasileira
Enquanto o ambiente internacional se mostra mais instável, o Brasil conta com vantagens estratégicas relevantes. Entre elas, destacam-se:
- Ativos de importância global: agropecuária, petróleo, mineração e terras raras.
- Estabilidade geopolítica na América do Sul.
- Mercado interno robusto e reformas recentes que aumentam a competitividade.
Nesse sentido, a MB Associados ressalta que, embora haja oportunidades para a economia brasileira, as questões fiscais internas precisam ser endereçadas a partir de 2027, evitando que entraves políticos impeçam avanços. A condução da política fiscal no próximo ciclo eleitoral será determinante para consolidar esses potenciais ganhos.
Projeções econômicas indicam desaceleração
As projeções da MB Associados para 2025 apontam crescimento do PIB de 2,2%, após alta de 3,4% em 2024. A taxa média de desemprego deve cair de 6,6% para 6,2%, enquanto a inflação medida pelo IPCA deverá passar de 4,8% para 5,1%. O câmbio médio esperado é de R$ 5,76 por dólar, com taxa Selic média de 14,65% ao ano. O déficit primário projetado é de 0,6% do PIB e a dívida bruta deve atingir 80,9% do PIB.
Para 2026, a MB Associados estima que a economia brasileira desacelere, com PIB de 1,6%, câmbio médio de R$ 5,93 e inflação de 4,6%. O desemprego médio tende a ficar em 6,7%, e a dívida bruta pode chegar a 85,9% do PIB. No setor externo, a balança comercial deve atingir US$ 78,6 bilhões, enquanto o déficit em transações correntes pode recuar para 1,5% do PIB.
Perspectivas para o cenário político e econômico
Por outro lado, a trajetória da economia brasileira dependerá não apenas de fatores externos, mas também das decisões internas. Um eventual aumento de instabilidade política em 2026, aliado a incertezas sobre a condução fiscal em 2027, pode gerar volatilidade nos mercados. A MB Associados avalia que, sem um compromisso claro com o ajuste fiscal, a confiança de investidores pode ser afetada.
Enquanto isso, o cenário internacional seguirá desafiador. A disputa comercial e tecnológica entre Estados Unidos e China deve se intensificar, impactando cadeias globais de valor e países emergentes. Nesse contexto, o Brasil precisará equilibrar o aproveitamento de suas vantagens competitivas com a resolução de problemas estruturais, especialmente na área fiscal, para sustentar crescimento econômico e estabilidade nos próximos anos.