por Bruno Corano*
O mercado americano vive um momento curioso. Depois de uma queda de quase 20% lá atrás, na primavera, os índices se recuperaram com força — e julho foi mais um mês de performance sólida: o S&P 500 subiu 3% e o Nasdaq, 3,6%, acumulando altas de 28% e 38%, respectivamente, desde que o presidente Trump suspendeu parte das tarifas em abril.
É um retorno expressivo, principalmente se considerarmos que o S&P 500 rende, em média, 11,6% ao ano nos últimos 50 anos. Mas a pergunta agora é: essa maré positiva continua em agosto?
Historicamente… talvez não. Mas não sou eu quem está dizendo isso. É Jeffrey Hirsch, do respeitado Stock Trader’s Almanac.
Ele lembra que agosto costuma ser um mês fraco, especialmente em anos pós-eleitorais como este. Desde 1950, os dados mostram:
- Dow Jones: -1,5% em média
- S&P 500: -1,2%
- Nasdaq (desde 1971): -0,8%
- Russell 1000 (desde 1979): -1%
- Russell 2000 (desde 1979): -0,5%
Ou seja, agosto está sempre entre os piores meses do ano analisando historicamente. Claro que isso não quer dizer que vai cair — mas que isso acaba criando uma certa superstição, acaba, e o mercado é feito essencialmente de? Expectativas.
Agora, somando a teórica sazonalidade ruim, com valuations esticados, e um sentimento de euforia no ar, a massa de investidores de curto prazo talvez comece a pisar um pouco no freio. Mas lógico que o mercado nem sempre tem muita lógica no curto prazo. Muito pelo contrário.
Hoje, o S&P 500 negocia a 22,4 vezes o lucro projetado, um múltiplo alto — parecido com o que vimos antes da correção anterior. Então, daqui pra frente, o mercado vai precisar que tudo continue dando muito certo pra não dar errado! Ou seja, para sustentar esse nível.
E esse “dar tudo certo” passa por:
- Negociações comerciais: Trump estendeu a pausa nas tarifas, mas colocou 1º de agosto como data-limite. Se os acordos com os parceiros decepcionarem, o risco de retração volta ao radar.
- Juros: O mercado espera que o Fed corte juros em setembro. Mas com inflação em 2,7% e desemprego estável em 4,1%, não há muita urgência. Se o corte não vier, ou vier menor do que o mercado precifica, isso pode impactar.
- Consumo, Crescimento... e vai embora a lista que precisa ser ticada!
E o que isso muda na prática?
Se você é um investidor de longo prazo, provavelmente, nada. Essas oscilações sazonais não devem alterar sua estratégia. Na verdade, elas já são previstas, e são justamente elas que abrem as janelas de oportunidades para aumentarmos os ganhos. Mas se você está para o curto prazo, mais ativo, realizando trades táticos, talvez agosto seja o momento de realizar lucros, ajustar posições e manter uma reserva em caixa para aproveitar eventuais quedas.
Porque uma coisa é certa: o mercado sobe no longo prazo, mas não em linha reta.
Tem muita curva no caminho — e saber navegar nelas pode fazer toda a diferença.
Coluna escrita por Bruno Corano, empresário, investidor, economista formado pela UPENN, sócio controlador da Corano Capital NYC
As opiniões transmitidas pelo colunista são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, a opinião da BM&C News.
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