A exportação brasileira enfrenta um teste decisivo com a escalada de tarifas em mercados-chave, com risco de perdas relevantes no crescimento. Em análise, Carlos Honorato, professor da FIA Business School, estima impacto potencial de até 4% do PIB.
Segundo o especialista, o efeito não é homogêneo e varia por setor e por região. “As tarifas impostas por países como os EUA podem desestabilizar a economia brasileira, especialmente em cadeias dependentes de vendas externas”, afirma. Para ele, a resposta passa por agenda de competitividade, previsibilidade regulatória e abertura de novos mercados, preservando a capacidade de geração de valor da exportação brasileira.
Como setores e regiões sentem o impacto na exportação brasileira?
Honorato ressalta que o agronegócio é diretamente atingido por barreiras tarifárias e não tarifárias, enquanto a indústria sofre por perda de margens e encarecimento de insumos. “O agronegócio é um dos mais vulneráveis, mas a indústria também sentirá o impacto, sobretudo onde a economia regional depende da pauta externa”, diz.
Estados com alta concentração de itens básicos tendem a notar mais volatilidade de renda e emprego. Já segmentos com maior valor agregado, contratos de longo prazo e diferenciação tecnológica mantêm algum amortecedor, desde que invistam em eficiência, certificações e rastreabilidade — requisitos cada vez mais exigidos pelos compradores.
A exportação brasileira pode tirar até 4% do PIB?
O professor projeta perdas de até 4% do PIB em cenários adversos, quando tarifas se somam a choques de demanda e a medidas retaliatórias. “Embora a retração inicial seja provável, o Brasil tem capacidade de adaptação e pode recuperar tração com planejamento”, avalia. A calibragem de câmbio, logística e crédito à exportação é decisiva para evitar dano prolongado.
Ele acrescenta que a previsibilidade doméstica em impostos indiretos, licenciamento e infraestrutura reduz custo de transação e melhora a elasticidade da oferta exportadora, sustentando a contribuição da exportação brasileira para o PIB.
Quais ações imediatas fortalecem a exportação brasileira?
Honorato elenca medidas práticas para mitigar perdas e acelerar a adaptação das empresas:
- Firmar acordos de facilitação comercial e reconhecimento de certificações para reduzir custos aduaneiros.
- Reforçar financiamento e seguros à exportação, com foco em capital de giro e prazos compatíveis com contratos externos.
- Subir na cadeia de valor com padronização técnica, inovação de produto e serviços pós-venda.
- Blindar cadeias críticas (insumos e logística) e avaliar hedge cambial conforme exposição.
- Aprimorar compliance ambiental e sanitário para abrir nichos de maior preço e previsibilidade.
Exportação brasileira deve diversificar mercados e produtos?
“Diversificar é essencial para reduzir dependência de poucos destinos e amortecer choques localizados”, afirma Honorato. O mapa de oportunidades inclui América Latina, Ásia e Oriente Médio, além de nichos de maior valor em alimentos processados, químicos, bens de capital e serviços técnicos associados à venda de bens.
Ele observa que a diversificação não é apenas geográfica: envolve redesenho de portfólio, reposicionamento de marca e construção de canais diretos com compradores, reduzindo intermediação e recuperando margem.
Qual a perspectiva macro e o que investidores devem observar na exportação brasileira?
Do lado macro, juros, câmbio e custos logísticos definirão a velocidade de ajuste. “Se houver previsibilidade fiscal e estabilidade regulatória, a resposta das empresas chega mais rápido”, diz. Para investidores, os vetores a monitorar incluem política comercial dos parceiros, balança de pagamentos, carteira de pedidos e indicadores de eficiência operacional.
Setores com escala, governança sólida e histórico de entrega em mercados exigentes tendem a atravessar o ciclo com menor volatilidade. “Investir em companhias que ampliam destinos e diferenciam produto pode capturar o revezamento de demanda externa”, conclui.
O que esperar adiante para a exportação brasileira?
O curto prazo pede foco em custos e acesso a mercado; o médio prazo, em inovação e logística; o longo prazo, em acordos e integração às cadeias globais. Com execução disciplinada, a exportação brasileira pode mitigar o choque de tarifas, preservar participação externa e contribuir de forma sustentável para o PIB, reposicionando o país em segmentos de maior valor e previsibilidade.
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