O CPI (Índice de Preços ao Consumidor) dos Estados Unidos registrou alta de 0,2% em julho, em linha com as expectativas do mercado, após avanço de 0,3% em junho. Na comparação anual, o índice subiu 2,7%, ligeiramente abaixo do consenso de 2,8% e repetindo a taxa de junho. O núcleo do CPI, que exclui itens voláteis como alimentos e energia, avançou 0,3% no mês, também dentro do esperado, após alta de 0,2% no mês anterior. Na base anual, o núcleo acelerou para 3,1%, superando o consenso de 3% e o patamar de 2,9% registrado em maio.
O resultado reforça a percepção de que a inflação nos Estados Unidos continua em trajetória de moderação, ainda que persistam pressões em alguns segmentos. Essa leitura mantém vivas as expectativas do mercado de que o Federal Reserve possa iniciar o ciclo de cortes de juros já no próximo mês.
Quais fatores influenciaram o resultado do CPI?
Segundo Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o dado de julho consolida um cenário de desaceleração gradual, com sinais mais claros de moderação nos preços. Ele ressalta que a queda nos custos de energia, em especial da gasolina, foi determinante para o índice geral. Por outro lado, houve pressões vindas de segmentos como medicamentos e serviços médicos.
O estrategista explica que a habitação continua sendo o principal desafio para uma redução mais intensa da inflação. “Esse componente respondeu por mais de 60% da alta no núcleo do CPI em julho”, afirma Cruz. Além disso, ele observa que a difusão de preços foi mais branda e que as quedas nas tarifas aéreas e no vestuário contribuíram para a moderação. “Esses sinais ampliam a probabilidade de cortes de juros pelo Fed nos próximos meses, desde que a tendência de desaceleração se mantenha”, completa.
Perspectivas para o Federal Reserve
Para Fabio Fares, especialista em análise macro, o resultado do CPI veio em linha com as projeções, confirmando a expectativa sazonal de preços mais altos durante o verão, mas sem surpresas negativas capazes de alterar significativamente o cenário monetário. “O dado mantém a porta aberta para o Fed iniciar o ciclo de cortes em setembro”, pontua. “O número do próximo mês precisa subir muito além da expectativa para o FED não iniciar o ciclo de cortes em setembro“, completa.
Fares lembra que, na sessão anterior à divulgação, a curva de juros já precificava mais de 80% de chance de corte na próxima reunião. “Com o resultado de julho, essa probabilidade tende a aumentar. Para que o Fed mude de direção, o CPI do próximo mês teria que apresentar uma alta muito acima do esperado”, avalia.
CPI e o estágio atual do ciclo ‘desinflacionário’
O comportamento dos preços em julho reflete características típicas de uma fase final de ciclo desinflacionário no período pós-pandemia. Itens de bens apresentaram estabilidade ou queda, enquanto os serviços continuaram subindo, sustentando o núcleo da inflação em patamar elevado.
A análise dos componentes do índice mostra que:
- Energia caiu 1,1% no mês, com destaque para a gasolina (-2,2%).
- Serviços médicos subiram 0,4% no comparativo mensal.
- Moradia avançou 0,2% no mês e 3,7% no ano, com aluguéis subindo 0,4% mensalmente.
- Vestuário recuou 0,6% e tarifas aéreas caíram 2,3% no mês.
Para os analistas, esses movimentos indicam uma moderação mais ampla dos preços e reforçam que, embora a inflação ainda esteja acima da meta do Fed, as condições caminham para um ambiente mais favorável à flexibilização monetária.
CPI segue no radar do mercado
O CPI de julho confirmou as expectativas do mercado e fortaleceu as projeções de que o Federal Reserve poderá iniciar cortes de juros já em setembro. A combinação de desaceleração no índice geral, difusão de preços mais baixa e ausência de surpresas negativas cria um cenário no qual o próximo dado de inflação será decisivo para confirmar essa trajetória. Para Cruz e Fares, os sinais atuais são de que a política monetária deve entrar em um novo ciclo, com a autoridade monetária buscando calibrar o ritmo de afrouxamento sem comprometer o controle inflacionário.