Na confusão que se seguiu às sanções decretadas por Donald Trump ao Brasil, é possível constatar que a percepção da sociedade em relação às autoridades e lideranças políticas ficou muito ruim. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, conseguiu estancar a queda de popularidade que vinha sofrendo, mas se estabilizou em patamares muito altos: em pesquisa do Datafolha de domingo, 50% dos entrevistados desaprovam Lula, enquanto apenas 46% têm opinião positiva sobre sua atuação.
No Poder Legislativo, o cenário também é negativo. O mesmo Datafolha aponta, em enquete divulgada ontem, que 78% dos brasileiros consideram que os congressistas agem mais em benefício próprio do que da coletividade. E 35% dos entrevistados consideram o desempenho do Congresso ruim ou péssimo (41% cravaram a opção “regular” e 18%, “ótimo ou bom”).
E o que acontece no Judiciário? São 36% que acham o trabalho do Supremo Tribunal Federal ruim ou péssimo, enquanto 29% consideram a performance da alta corte ótima ou boa. Além disso, 68% dos ouvidos acreditam que o Judiciário “pensa mais nos próprios interesses”, contra 27% que dizem ver as demandas da população priorizadas.
Por fim, o quadro também não está bom para as lideranças políticas de oposição. Levantamento do Instituto Quaest mostra que 53% do público das redes sociais é a favor da prisão domiciliar de Jair Bolsonaro. E os governadores que estão no páreo da sucessão? Em julho, Tarcísio de Freitas e Ratinho Jr. foram os nomes que mais perderam posições no Índice Datrix de Presidenciáveis. Ambos haviam liderado o ranking em junho, com Tarcísio em 2º lugar (21,19 pontos) e Ratinho Jr. em 1º lugar (21,72 pontos). No levantamento de julho, após uma queda de 37% na pontuação de cada um, Tarcísio caiu para a 4ª posição (13,31 pontos) e Ratinho Jr. para a 3ª posição (13,61 pontos).
Neste jogo de perde-perde, alguém saiu ganhando?
Sim.
E a resposta pode parecer surpreendente para muitos: Michelle Bolsonaro teve uma alta expressiva no Índice Datrix de Presidenciáveis. No mês passado, Michelle ocupava a 6ª posição neste ranking, com 11,25 pontos. Já em julho, ela deu um salto expressivo para a primeira posição, atingindo 27,15 pontos — mais que o dobro da pontuação anterior.
Esse avanço foi impulsionado por um crescimento de 50% no engajamento de suas redes sociais e pela atuação à frente do PL. A repercussão do tarifaço de Trump também contribuiu para reorganizar o cenário digital, favorecendo Michelle no debate político online. Essa medição, entretanto, não vale como uma pesquisa de opinião. Mas mostra que o cenário atual provocou um certo rearranjo nas preferências do eleitorado.
A ex-primeira-dama continuará com a popularidade alta? Ainda é difícil de saber. Mas, dentro de seu partido, teme-se pelo desempenho da ex-primeira-dama em um debate, já que ela nunca exerceu um cargo executivo na vida. Dessa forma, muitos não apostam em Michelle para ser o nome da direita em 2026.
Como o momento é de crise e todos os personagens políticos de expressão – com exceção da esposa de Bolsonaro – estão com a imagem em baixa, talvez fosse um bom momento para deixar a polarização de lado. Esta seria uma boa oportunidade para uma conversa mais ampla, que pudesse ajudar o Brasil.
O problema é que essa negociação aberta poderia ajudar o governo, na antevéspera da eleição presidencial. A oposição, nesta hora crucial, colaborará com o Executivo? Dificilmente.
Uma coisa, porém, é certa. Quando vivemos um período em que instituições e lideranças estão com a popularidade em baixa, abre-se uma oportunidade para o surgimento de novos nomes no processo eleitoral. O risco é que esses novatos possam ser oportunistas ou demagogos. Temos alguma chance de renovação com qualidade? Essa é uma pergunta que, por enquanto, não tem resposta.