A educação superior brasileira pode estar prestes a ganhar um novo protagonista. A Universidade Católica de Murcia (UCAM), uma das instituições privadas mais reconhecidas da Espanha, está em fase de instalação de seu primeiro campus no Brasil, começando por São Paulo. A iniciativa busca atender à crescente demanda por cursos de alta qualidade nas áreas de saúde, tecnologia e esportes, com uma proposta pedagógica voltada à formação global e rigor acadêmico.
O anúncio foi feito no programa BM&C Talks, que recebeu o diretor de Relações Institucionais da UCAM, José Luis Mendoza, e o diretor de estratégia e expansão global, VanDyck Silveira. A universidade, que já possui presença internacional em Mumbai, Dubai e Cairo, quer agora oferecer no Brasil um modelo que mescla tradição europeia com inovação tecnológica, forte ligação com o mercado de trabalho e uma proposta educacional de base humanista e cristã.
Por que a UCAM escolheu o Brasil?
Segundo Mendoza, a escolha do Brasil foi estratégica. “O país representa um oceano azul na educação superior. Há carência de instituições internacionais com presença física, especialmente com cursos oferecidos 100% em inglês”, explicou. Além disso, o crescimento populacional de São Paulo, as carências do sistema público e a escassez de médicos e profissionais qualificados impulsionaram a decisão.
VanDyck destacou ainda que a UCAM será uma das primeiras universidades europeias a se estabelecer com capital próprio no Brasil. “Queremos ser uma universidade estrangeira em solo brasileiro, mas aberta ao mundo, com alunos e professores de diferentes nacionalidades, culturas e religiões”, disse.
Quais cursos serão oferecidos no campus da UCAM no Brasil?
O campus terá início com foco em áreas estratégicas para o país, como:
- Medicina, enfermagem, fisioterapia e psicologia, aproveitando a força da UCAM nas ciências da vida;
- Ciência do esporte e medicina esportiva, com programas de alta performance esportiva aplicados à realidade brasileira;
- Engenharia e ciência da computação, com abordagem voltada para empregabilidade internacional;
- Cursos em inglês, para atrair alunos estrangeiros e formar brasileiros com padrão global.
Além disso, a universidade quer aplicar a metodologia europeia desde o primeiro ano, com forte uso de tecnologia, simulações e ambientes que espelham a realidade profissional. Segundo Silveira, “o aluno de medicina, por exemplo, já entra na universidade atuando como médico, em ambientes simulados de hospital”.
Como a UCAM pretende manter o rigor acadêmico em um novo país?
A expansão internacional, segundo José Luis Mendoza, exige comprometimento com a qualidade. Ele explicou que o modelo europeu conta com um “sistema de garantia da qualidade” que avalia desempenho, impacto profissional e satisfação dos alunos. “A liberdade de cátedra é importante, mas precisa estar acompanhada de critérios objetivos que evitem a contaminação ideológica e garantam um ensino prático e conectado com as demandas da sociedade e da indústria”, afirmou.
Nesse sentido, a UCAM quer ser uma alternativa à formação universitária dominada por “ideologia e desconexão com o mercado”, como apontado por VanDyck. “Formamos para o mundo real, para resolver problemas, não para doutrinar”, disse.
Como a UCAM lida com a inteligência artificial na educação?
A universidade está ativamente integrando a inteligência artificial em seus processos pedagógicos. Mendoza explicou que, mais do que combater o uso da IA, a UCAM busca ensinar os alunos a formularem boas perguntas, estimular o pensamento crítico e adaptar os métodos de avaliação. “O foco está mudando da resposta para a pergunta. O aluno deve saber como pensar, e não apenas reproduzir conteúdo”, explicou.
Além disso, a UCAM desenvolve ambientes de realidade virtual para simulações, inclusive em parceria com o exército espanhol e a OTAN, aplicando IA em contextos reais para treinamento prático. A meta é trazer essa tecnologia também ao Brasil.
Quais são os planos para internacionalização do campus brasileiro?
A proposta não é apenas formar brasileiros, mas criar um ambiente verdadeiramente internacional. O campus de São Paulo receberá professores e alunos de diversas partes do mundo e permitirá intercâmbios com os demais campi da UCAM. “Queremos transformar São Paulo em um polo de educação internacional. Um local onde brasileiros, europeus, árabes e africanos estudem juntos”, afirmou VanDyck.
A universidade prevê também a criação de programas de dupla titulação com reconhecimento parcial ou total entre Brasil e Europa, especialmente nas áreas de medicina e saúde, que são mais reguladas. “A ideia é que o aluno possa terminar o curso aqui ou lá, com validação nos dois países”, explicou Mendoza.
Qual o papel da identidade católica na UCAM?
Fundada sob a inspiração cristã e reconhecida oficialmente pelo Vaticano, a UCAM mantém seus princípios católicos nas sedes internacionais, mas de forma aberta e respeitosa. “Nossa missão é formar o ser humano como um todo. Não apenas um técnico, mas alguém capaz de lidar com sofrimento, morte, dor e sentido de vida”, afirmou Mendoza.
A atuação é adaptada à cultura local, mas sem renunciar à base humanista e espiritual que, segundo os fundadores, é parte essencial da formação integral.
Haverá bolsas para estudantes brasileiros?
Sim. Segundo os representantes, o campus brasileiro terá um programa de bolsas de estudo para alunos talentosos com dificuldades financeiras. Hoje, a UCAM oferece mais de 1.000 bolsas por ano na Espanha e pretende replicar esse modelo por aqui.
Além disso, haverá incentivos para profissionais do setor de saúde que atuarem como tutores, com descontos e bolsas estendidas a familiares próximos.
Com a proposta de oferecer uma educação superior de padrão europeu, fortemente conectada ao mercado e pautada em valores cristãos, a UCAM promete provocar mudanças no cenário universitário brasileiro. A iniciativa pode ampliar o acesso à formação internacional no Brasil, atrair estudantes estrangeiros e estabelecer novas referências de qualidade no ensino superior privado.
O campus de São Paulo será o primeiro passo dessa jornada, com a promessa de expansão para outras regiões do país nos próximos anos.