O novo Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (4º), confirmou a continuidade da desinflação no atacado e trouxe alertas sobre o agravamento das contas externas do Brasil. A mediana das projeções para o IGP-M de 2025 caiu pela 12ª semana consecutiva, refletindo a deflação de 0,77% registrada em julho. Ao mesmo tempo, o relatório aponta deterioração na conta corrente e na balança comercial, impactadas pelo recente tarifaço dos Estados Unidos contra o Brasil.
De acordo com o economista Maykon Douglas, o cenário desenhado no Focus confirma um movimento de alívio inflacionário na produção, mas também evidencia os riscos crescentes no setor externo. “A deflação recente no IGP-M é resultado direto da desaceleração dos preços no atacado e da valorização cambial no mês passado, mas os efeitos do comércio internacional ainda estão sendo absorvidos”, afirma.
O que o Focus revela sobre os impactos do tarifaço nas contas externas?
O relatório Focus desta semana mostra revisões para baixo nas expectativas da conta corrente e da balança comercial em 2025. As medianas agora estão em -US$ 60 bilhões e US$ 65,25 bilhões, respectivamente, ambos em queda em relação às semanas anteriores. Esses ajustes ocorrem em meio ao agravamento das tensões comerciais entre Brasil e EUA, que adotaram tarifas sobre produtos agrícolas e industriais brasileiros.
Segundo Maykon Douglas, “essas novas tarifas ampliam as incertezas do comércio exterior brasileiro. Mesmo sem retaliação oficial do governo brasileiro até o momento, o mercado já precifica uma piora no fluxo comercial”. Ele destaca, no entanto, que o desequilíbrio na conta corrente já se desenhava antes da crise atual: “Desde meados de 2024, com a demanda interna aquecida, o Brasil tem registrado aumento das importações e perda de competitividade externa.”
Projeção do Focus para o câmbio se estabiliza em R$ 5,60
Em relação ao dólar, o Focus mostra que a mediana da taxa de câmbio em 2025 permanece em R$ 5,60, patamar mantido nas últimas semanas. Para Maykon Douglas, isso indica que o mercado atingiu uma zona de acomodação diante dos riscos atuais.
“A estabilidade nas projeções não significa ausência de risco”, avalia. “Novas ações dos EUA ou respostas do governo brasileiro podem reacender a pressão sobre o real. Por ora, o mercado parece aguardar os próximos movimentos antes de ajustar a taxa de câmbio.”
IGP-M segue em queda, mas Focus acende alerta para cenário externo
A sequência de cortes nas projeções do IGP-M no Focus é reflexo da conjuntura favorável de preços no atacado e da valorização do real, mas o contexto internacional impõe cautela. A deflação de julho contribuiu para o novo recuo na mediana de 2025, agora em 1,33%.
“O Focus mostra um quadro de alívio inflacionário por um lado e deterioração fiscal e externa por outro. A política comercial será determinante nos próximos meses para sabermos se o câmbio e a conta corrente conseguirão se manter nesse patamar.”, conclui o economista.