O Brasil pode perder, em poucos anos, o protagonismo conquistado no setor energético com o pré-sal. Segundo Adriano Pires, especialista em energia e fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o país corre o risco de atingir o pico de produção do pré-sal em 2030 e voltar a importar petróleo a partir de 2040. A falta de planejamento e os entraves regulatórios e ambientais estão entre os principais motivos.
Em entrevista ao programa BM&C Strike, Pires traçou um panorama crítico da política energética brasileira. Ele afirma que a inércia nos leilões de novos campos e a demora em liberar a exploração da Margem Equatorial podem comprometer a segurança energética nacional e gerar perdas bilionárias para o país.
Por que a produção do pré-sal está com os dias contados?
Adriano Pires lembra que todo campo de petróleo segue um ciclo natural: início, pico e declínio. “O petróleo é como a vida: nasce, cresce e morre. O Brasil já viu isso com a Bacia de Campos e verá novamente com o pré-sal”, afirmou. A expectativa é que a produção alcance até 5 milhões de barris por dia antes de começar a cair.
Sem novas fronteiras de exploração prontas para substituir a Bacia de Santos, que abriga o pré-sal, o Brasil ficará vulnerável. O cenário é agravado pela morosidade na concessão de licenças ambientais, especialmente na Margem Equatorial, cuja exploração segue travada há mais de uma década. “A Petrobras espera há 12 anos por uma licença. A BP e a Total já foram embora. A Margem Equatorial virou o novo crime contra o futuro”, disse Pires.
O especialista faz uma provocação sobre como o Brasil tem conduzido a situação. “A ideologia é muito bonita, mas a gente tem que pensar o seguinte: o Brasil pode se permitir a deixar embaixo da terra uma riqueza como essa? Eu acho que não.“, avalia Pires.
Pré-sal: falta planejamento ou sobra ideologia?
O especialista é enfático ao apontar o que chama de “visão ideológica” na condução da política energética. Para ele, a atuação da atual gestão ambiental do governo federal prioriza barreiras políticas e ideológicas em detrimento de soluções técnicas. “É uma falsa preservação. O Brasil tem excelência em produção offshore. Nunca tivemos acidentes graves”, afirmou.
Pires ainda destacou a ausência de um plano energético de longo prazo. “Toda vez que muda o governo, muda tudo. A Petrobras troca de presidente a toda hora. Como fazer planejamento assim?”, questiona.
Com a transição energética global em curso e a demanda crescente por segurança energética, impulsionada por eventos como a guerra na Ucrânia e a revolução da inteligência artificial, o petróleo ainda é essencial. Para Pires, o Brasil poderia se tornar um dos principais fornecedores de energia segura, limpa e abundante.
“Trump impôs tarifas, mas poupou petróleo, gás e minério brasileiros. Isso mostra que os EUA veem valor estratégico nesses setores. E nós? Estamos deixando passar essa chance”, alertou.
Brasil sem pré-sal: quais são os riscos econômicos?
Sem uma substituição à altura do pré-sal, o Brasil corre o risco de comprometer seriamente sua soberania energética e abrir espaço para uma nova dependência externa em um cenário global instável. A queda na produção não afeta apenas a balança comercial e a arrecadação com royalties, que sustentam estados como o Rio de Janeiro, mas também a capacidade do país de atrair investimentos.
“Se a gente não agilizar a Margem Equatorial, o Brasil vai voltar a ser importador de petróleo a partir da segunda metade da década de 30”, alertou Adriano Pires. Ele lembra que a escassez interna também pode gerar efeitos em cadeia sobre preços, inflação e indústria: “O petróleo é o principal item da balança comercial brasileira e a maior fonte de receita para o Tesouro com royalties. Abrir mão disso é uma irresponsabilidade.”
- Perda de arrecadação com royalties e participação especial, principalmente para estados como o Rio de Janeiro;
- Desestímulo ao investimento privado com regulação instável e intervenções estatais;
- Retorno da dependência energética externa, com impacto direto na balança comercial;
- Desperdício de vantagens comparativas, como o domínio tecnológico do etanol e do offshore.
E o gás natural? Contradições e oportunidades
Pires também criticou a proibição da exploração de gás não convencional (shale gas) no Brasil. “Importamos gás de fora, inclusive dos EUA, que é gás de xisto, mas não podemos produzir aqui por barreiras ambientais. É hipocrisia”, disse.
Ele defendeu a produção nacional como forma de baratear o custo do gás e reindustrializar o país, lembrando que o Brasil é hoje importador de gás e poderia explorar essa riqueza internamente com responsabilidade.
Para Adriano Pires, o Brasil precisa superar o “complexo de vira-lata” e valorizar seus ativos energéticos. Ele defende a exploração responsável do pré-sal e da Margem Equatorial, o uso inteligente do etanol e a integração entre o setor agro e energético como pilares de uma estratégia nacional.
“Energia boa é aquela que está disponível. Todas as fontes são importantes. A gente precisa parar com invencionices e usar o que temos de melhor”, concluiu.