O mercado de trabalho dos Estados Unidos apresentou a criação de apenas 73 mil empregos, número bem abaixo das expectativas de analistas, que projetavam 115 mil novos postos. A taxa de desemprego subiu levemente de 4,1% para 4,2%, em linha com as projeções, segundo dados do Payroll, divulgados pelo Departamento do Trabalho nesta sexta-feira (1º).
No entanto, o dado mais surpreendente do relatório veio das revisões dos meses anteriores, que mostraram uma fragilidade maior do que o inicialmente reportado. Em maio, o número de empregos criados foi revisto de 144 mil para apenas 19 mil, e em junho, de 147 mil para 14 mil. As revisões negativas totalizaram 258 mil empregos a menos do que o estimado anteriormente.
Por que as revisões do Payroll chamaram tanto a atenção do mercado?
De acordo com Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, as revisões do Payroll para baixo foram “realmente impressionantes” e devem ter um peso significativo nas expectativas para a política monetária do Federal Reserve (Fed). “Com toda certeza, o mercado vai interpretar esses dados como sinal de que há espaço para o Fed cortar juros já em setembro”, avaliou.
Nesse sentido, a sinalização de fragilidade no mercado de trabalho coloca ainda mais pressão sobre o banco central norte-americano, que monitora de perto a evolução do emprego e da inflação para decidir sobre o rumo da taxa básica de juros. Segundo Cruz, “o cenário atual sugere que o Fed pode agir com mais flexibilidade nos próximos meses“.
Payroll: setores como construção revelam efeitos colaterais inesperados
Abrindo os dados do Payroll, um ponto que chamou a atenção no relatório foi o desempenho do setor de construção, que registrou estabilidade no número de empregos, algo incomum em períodos de verão no hemisfério norte, quando a atividade costuma ser mais intensa. Cruz explica que “a construção civil nos Estados Unidos é fortemente ocupada por imigrantes, e muitos estão deixando de aparecer para trabalhar com medo das ações do Departamento de Imigração”.
Além disso, o fluxo de imigração para os Estados Unidos tem diminuído, o que, na prática, reduz a oferta de mão de obra e pode manter a taxa de desemprego artificialmente baixa, mesmo com menor geração de vagas. “Essa combinação distorce um pouco a leitura do dado de desemprego, que permanece baixo apesar da clara desaceleração nas contratações”, explicou.
Salários estão sob controle?
Os salários médios por hora subiram 0,3% em julho, elevando o ganho acumulado em 12 meses para 3,9%. Ainda assim, os números são considerados aceitáveis pelo mercado e pelo Fed. “O Banco Central gostaria de ver os salários crescendo abaixo de 3,5%, mas entre 3,5% e 4%, ainda está dentro de uma faixa administrável”, ponderou Cruz.
Esse comportamento moderado dos salários contribui para aliviar preocupações com pressões inflacionárias oriundas do mercado de trabalho, especialmente em um contexto de enfraquecimento econômico. “Não há um problema grave vindo dos salários neste momento”, reforçou o estrategista.
Payroll reforça expectativas para corte de juros em setembro
Com o conjunto de dados mais fraco do que o previsto e revisões significativas para baixo, as expectativas de um corte de 0,25 ponto percentual nos juros por parte do Fed em setembro se intensificaram. “O cenário está se alinhando para isso. A fragilidade do mercado de trabalho, especialmente com essas revisões agressivas, não deve ser ignorada pelo Fed”, concluiu Cruz.
- Vagas criadas em julho: 73 mil (expectativa: 115 mil)
- Maio revisado: de 144 mil para 19 mil
- Junho revisado: de 147 mil para 14 mil
- Taxa de desemprego: 4,2%
- Crescimento salarial anual: 3,9%
Enquanto isso, investidores seguem atentos às próximas sinalizações do Fed. A combinação de inflação sob controle, salários moderados e um mercado de trabalho fragilizado pode abrir espaço para o início do ciclo de flexibilização monetária ainda neste trimestre.