O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central encerra nesta quarta-feira (30) mais uma reunião para deliberar sobre a taxa básica de juros, a Selic. A expectativa unânime entre economistas e agentes de mercado é de manutenção da taxa em 15% ao ano, patamar estabelecido em junho, quando o ciclo de aperto monetário iniciado em 2024 foi interrompido após sucessivas elevações.
Com a decisão amplamente precificada, o foco recai sobre o tom do comunicado. O mercado busca pistas sobre o horizonte de manutenção da taxa atual e sobre os elementos que podem motivar uma eventual flexibilização. Além disso, ganha destaque a avaliação do Banco Central sobre a inflação, a atividade econômica e os riscos fiscais e externos.
O que o mercado espera do Copom nesta reunião?
De forma geral, analistas esperam que o comunicado da autoridade monetária mantenha o discurso de cautela e vigilância. O Banco Central deve reiterar que os efeitos contracionistas do atual patamar de juros ainda estão em curso, e que os dados recentes, embora favoráveis em alguns aspectos, ainda não permitem considerar cortes.
Entre os especialistas consultados pela BM&C News, há consenso de que a taxa permanecerá em 15% por um longo período. A seguir, veja os destaques das projeções:
- Leonardo Costa (ASA): juros mantidos até dezembro, com possível início de cortes apenas no fim do ano;
- Gustavo Sung (Suno Research): cortes só no 1º trimestre de 2026, com Selic encerrando 2026 em 13%;
- Rafael Cardoso (Daycoval): manutenção da Selic até o início de 2026, diante de inflação desancorada.
Além disso, os economistas esperam que o Copom continue enfatizando que não hesitará em retomar o ciclo de alta, caso identifique riscos à convergência da inflação para a meta.
Inflação recua, mas segue pressionada
Apesar das boas notícias no curto prazo, a inflação ainda inspira cautela. Os dados mais recentes do IPCA vieram abaixo do esperado, com desaceleração em serviços, núcleos e preços de alimentos. O índice para 2025 caiu de 5,2% para 5,1%, e a expectativa para 2026 passou de 4,5% para 4,4%, segundo o Boletim Focus.
Por outro lado, os núcleos de inflação ainda permanecem acima do nível compatível com a meta de 3%, o que reforça a manutenção de juros elevados. A desancoragem das expectativas continua sendo uma das principais preocupações da autoridade monetária.
Como está o cenário de atividade econômica?
A economia brasileira começa a demonstrar sinais mais claros de desaceleração. Os indicadores de maio apontam queda na produção industrial (-0,5%), recuo nas vendas do varejo restrito (-0,2%) e queda no índice de atividade IBC-Br (-0,7%).
No entanto, o mercado de trabalho segue aquecido, com criação robusta de vagas e redução da taxa de desemprego. A massa salarial elevada e os estímulos do governo têm mantido a demanda agregada resiliente.
Segundo análise do Daycoval, embora o consumo das famílias e a resiliência do mercado de trabalho continuem sustentando a atividade, a expectativa é de moderação mais acentuada nos próximos trimestres. A projeção para o PIB no segundo trimestre é de alta de 0,6%, mas a tendência é de desaceleração até o final do ano.
Qual o impacto do câmbio e do cenário externo?
Enquanto isso, o câmbio tem colaborado para um ambiente desinflacionário. A valorização recente do real, que se mantém na faixa de R$ 5,50 a R$ 5,60, alivia a pressão sobre os preços internos. Entre os fatores que explicam esse movimento estão:
- O enfraquecimento global do dólar;
- O diferencial elevado de juros no Brasil;
- A volta dos fluxos estrangeiros com maior apetite ao risco;
- A assinatura de novos acordos comerciais com os Estados Unidos.
No entanto, o cenário externo ainda apresenta incertezas. A guerra tarifária entre Brasil e Estados Unidos, com aplicação de alíquotas de até 50% sobre exportações brasileiras, adiciona riscos à atividade. Embora os impactos inflacionários sejam inicialmente limitados, o BC deve incorporar essa nova variável ao seu balanço de riscos.
Copom pode mudar o discurso nos próximos meses?
Segundo Gustavo Sung, da Suno Research, o Comitê pode iniciar uma discussão mais clara sobre cortes de juros apenas no primeiro trimestre de 2026. “Para isso, será necessário um quadro de inflação mais benigna, expectativas ancoradas e hiato do produto negativo”, afirma.
Rafael Cardoso, do Daycoval, também acredita que a flexibilização só ocorrerá em 2026. “Os dados de inflação e atividade caminham na direção certa, mas ainda são insuficientes para mudar a estratégia”, explica. Leonardo Costa, do ASA, mantém uma projeção mais otimista, com possibilidade de início do ciclo de cortes no último trimestre deste ano.
Em meio a um cenário complexo, o Copom deve seguir com juros elevados e com um discurso de vigilância. A decisão desta quarta-feira deve confirmar a manutenção da Selic em 15% ao ano, reforçando o compromisso com a convergência da inflação e a preservação da credibilidade do regime de metas.
O mercado seguirá atento aos próximos indicadores de inflação, atividade e expectativas. Até que haja maior clareza sobre a sustentabilidade da trajetória desinflacionária, o Banco Central deve continuar defendendo a prudência como principal diretriz da política monetária.
Veja mais notícias aqui. Acesse o canal de vídeos da BM&C News.