O novo acordo comercial firmado entre Estados Unidos e União Europeia, que prevê tarifas reduzidas de 15%, marca uma virada estratégica nas relações comerciais entre as duas potências. A alíquota acordada é bem inferior aos 50% ou até 100% que estavam sendo discutidos anteriormente, sinalizando um esforço bilateral para suavizar tensões e ampliar o comércio em meio ao cenário geopolítico global.
Para o economista VanDyck Silveira, entrevistado pelo portal BM&C News, o pacto foi construído com “racionalidade e negociação estratégica, beneficiando ambos os lados”. No entanto, o especialista alerta que o Brasil pode sair enfraquecido desse novo arranjo, especialmente se continuar adotando uma postura ideológica nas suas relações internacionais, em detrimento de interesses comerciais.
O Brasil pode ficar para trás sem acordo comercial?
Segundo Silveira, o Brasil corre o risco de se isolar ao privilegiar alianças ideológicas, especialmente com países que se colocam como antagonistas das potências ocidentais. “O Brasil está correndo o risco de se isolar por escolhas ideológicas”, afirma o economista. Ele destaca que críticas recentes do presidente Lula à administração Trump e aproximações com governos rivais dos EUA podem afetar diretamente o posicionamento brasileiro em futuras negociações.
O novo acordo comercial entre EUA e União Europeia tem potencial para enfraquecer o interesse europeu em concluir o tratado com o Mercosul. Isso ocorre justamente no momento em que o bloco sul-americano buscava consolidar um tratado de livre comércio com a União Europeia. A falta de uma estratégia comercial clara por parte do Brasil pode fazer com que o país perca relevância nesse processo.
Além disso, as tarifas mais baixas acordadas entre os norte-americanos e os europeus criam um ambiente de competição mais acirrada para os produtos brasileiros, que enfrentam altos custos de produção e dificuldades logísticas. “Sem uma posição clara e estratégica, o Brasil pode ver suas oportunidades de exportação diminuírem”, alerta Silveira.
Quais os riscos do Brasil ficar fora do acordo comercial?
O aprofundamento das relações comerciais entre EUA e UE acirra a concorrência global. Para o Brasil, que não participa desse tipo de acordo comercial abrangente com nenhuma das duas potências, os efeitos podem ser adversos, como:
- Redução da competitividade dos produtos brasileiros nos mercados americano e europeu;
- Perda de protagonismo nas negociações do acordo Mercosul-União Europeia;
- Maior dependência de mercados alternativos com menor estabilidade institucional;
- Queda nos investimentos estrangeiros diante de incertezas políticas e diplomáticas.
Nesse sentido, outros países em desenvolvimento, como México e Vietnã, vêm se destacando por adotarem estratégias comerciais pragmáticas, firmando acordos bilaterais com foco em abertura de mercado e atração de investimentos. O Brasil, por sua vez, tem perdido espaço ao insistir em discursos ideológicos e pouco alinhados com os interesses comerciais globais.
Como o Brasil pode reagir à nova realidade do comércio internacional?
VanDyck Silveira propõe que o Brasil adote uma abordagem mais pragmática na sua política externa e comercial. Para ele, é essencial revisar alianças e buscar inserção em novos acordos comerciais com foco em resultados econômicos. “É crucial que o Brasil reavalie sua posição e suas alianças, para não perder espaço em um mercado global cada vez mais competitivo”, reforça o economista.
O especialista também defende reformas estruturais que melhorem o ambiente de negócios, reduzam a insegurança jurídica e aumentem a atratividade do Brasil como destino de capital internacional. Somente com uma estratégia coesa o país conseguirá competir em um cenário em que os acordos comerciais moldam não apenas tarifas, mas também padrões regulatórios, investimentos e inovação.
Em um mundo em que as relações bilaterais e multilaterais estão sendo redefinidas por meio de acordos comerciais estratégicos, o Brasil precisa decidir se continuará sendo mero espectador ou se assumirá papel protagonista. A análise de Silveira serve como um alerta claro: é hora de o país sair da retórica e construir uma inserção global baseada em interesse nacional e competitividade.