O Federal Reserve (Fed) se reúne nesta quarta-feira (30) para definir os rumos da política monetária dos Estados Unidos, com expectativa majoritária de manutenção da taxa de juros na faixa de 4,25% a 4,50%. A decisão acontece em um momento de elevada complexidade: a economia americana mostra sinais de resiliência, enquanto novas pressões inflacionárias surgem, impulsionadas pelo recente tarifaço anunciado pelo presidente Donald Trump.
Além disso, o mercado acompanha com atenção os próximos movimentos do Fed diante de um cenário global marcado por protecionismo comercial, instabilidade geopolítica e risco fiscal em diversas economias emergentes. O resultado da reunião será conhecido poucas horas após a divulgação do PIB do segundo trimestre dos EUA, um dado que pode influenciar o tom da coletiva de imprensa do presidente Jerome Powell.
O Fed pode mudar de tom diante do tarifaço?
Para o economista Pedro Ros, CEO da Referência Capital, o contexto atual exige mais do que uma simples leitura dos dados macroeconômicos. “A economia dos EUA continua resiliente, com dados de emprego e consumo ainda fortes, o que justifica a cautela do Fed em antecipar cortes”, afirma. No entanto, ele destaca que o tarifaço promovido por Trump adiciona um novo vetor de incerteza ao cenário inflacionário, dificultando o trabalho do banco central.
Nesse sentido, Ros alerta que a combinação entre juros elevados, protecionismo comercial e instabilidade geopolítica pode gerar distorções nos preços dos ativos, afetar a balança de pagamentos e reduzir o espaço para alocações mais ousadas. “Esse ambiente exige atenção redobrada de investidores e gestores”, complementa.
Richard Ionescu, CEO do Grupo IOX, compartilha a visão de que o Fed deve manter os juros em patamar elevado por mais tempo, diante de uma inflação que ainda não foi completamente controlada. “A decisão do Fed de manter os juros elevados indica que o aperto monetário deve se estender”, avalia. Ele reforça que isso fortalece o dólar e impõe desafios a países emergentes como o Brasil, elevando o custo de captação e exigindo maior atenção à política fiscal e à previsibilidade institucional.
Quais os riscos para o Brasil e os mercados globais?
Segundo Ionescu, o cenário atual pede uma atuação mais técnica no mercado de crédito estruturado. “Com liquidez mais cara e seletiva, a gestão de garantias, a qualidade dos ativos e a governança se tornam ainda mais estratégicas para investidores institucionais”, destaca.
Já para a economista Andressa Durão, do ASA, o Fed deve manter o discurso calibrado e focado em riscos. “Esperamos que o Fed mantenha a taxa de juros inalterada, reiterando que a política monetária está bem ajustada para lidar com o atual cenário de incerteza”, explica. Para ela, Powell deve abordar os efeitos iniciais das tarifas na inflação e destacar que novos impactos virão nos próximos meses.
A coletiva de imprensa do presidente do Fed será especialmente relevante nesta quarta-feira, já que ocorrerá após a divulgação do PIB do 2T25. Qualquer surpresa nesse indicador pode gerar perguntas incisivas durante o Q&A, afetando as expectativas dos mercados.
O que acompanhar na reunião do Fed:
- Decisão sobre a taxa de juros (esperada manutenção entre 4,25% e 4,50%)
- Discurso de Powell sobre inflação e impactos das tarifas
- Revisão das projeções econômicas, se houver
- Reações ao PIB do segundo trimestre
O que está em jogo nesta reunião do Fed vai além da taxa de juros: envolve a percepção sobre o grau de comprometimento do banco central com o controle da inflação em um ambiente politicamente carregado. O mercado quer respostas sobre o equilíbrio entre rigidez monetária e estímulo ao crescimento e cada palavra de Powell será analisada com lupa.