O que parecia impossível aconteceu: a polarização política, que já vinha em níveis altíssimos, ascendeu a um novo patamar, bem mais alarmante. Desde que o presidente americano Donald Trump resolveu elevar as tarifas alfandegárias para os produtos brasileiros por questões ideológicas, o debate em torno do lulismo e do bolsonarismo pegou fogo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, embalado por uma esquálida melhora nas pesquisas de opinião pública, viu no cenário econômico incerto uma oportunidade para acelerar na curva e continuar a instigar pobres contra ricos. “É preciso parar com essa ideia. O pobre fala que vai votar no prefeito que é rico porque ele não vai roubar, porque já é rico. Ora, ele só é rico porque já roubou”, disse Lula há poucos dias.
Não deixa de ser irônico que o líder máximo do Partido dos Trabalhadores, alvo de inúmeros processos de corrupção durante a operação Lava Jato, fale em “roubo” do dinheiro público. Especialmente porque ele foi condenado por corrupção passiva.
Lembremos: a acusação afirmava que Lula teria recebido um apartamento triplex no Guarujá como propina da empreiteira OAS em troca de favorecimentos em contratos com a Petrobras. Mais tarde, em março de 2021, o Supremo Tribunal Federal anulou as condenações, alegando que o juiz Sérgio Moro não tinha competência legal para julgar os casos e que houve parcialidade na condução dos processos, comprometendo o direito a um julgamento justo. Só que o STF levou sete anos para chegar à conclusão de que Moro não poderia ter julgado o processo, que condenou várias pessoas e produziu inúmeras confissões de delitos.
É importante também lembrar, neste contexto, que Lula não foi absolvido, mas sim teve os processos anulados por irregularidades processuais. Com isso, os casos foram transferidos para a Justiça Federal do Distrito Federal e acabaram prescritos, ou seja, o prazo legal para julgamento expirou. É apenas por essa razão que ele pôde participar da eleição de 2022 e ocupa hoje o Palácio do Alvorada.
O movimento de Trump endureceu também o discurso da direita, que pode ser prejudicada com as medidas da Casa Branca – uma vez que houve a participação direta do deputado Eduardo Bolsonaro na criação de sanções para tentar melhorar a situação do pai, Jair Bolsonaro.
A atuação de Eduardo Bolsonaro no caso gerou uma divisão forte entre os brasileiros mais conservadores e aqueles que preferem a moderação. Enquanto a direita mais raiz fortificou suas críticas a Lula e assinou um certificado ISO 9002 de fidelidade ao ex-presidente, os mais moderados viram a atuação do filho do ex-presidente no caso como desastrosa, podendo trazer consequências econômicas amargas para o Brasil.
Pode-se discutir à vontade quem é o culpado dessa situação: se o ministro Alexandre de Moraes, se o presidente Lula ou se a família Bolsonaro. Uma coisa, porém, é certa. Os direitistas, até recentemente, tinham a faca e o queijo na mão para tirar o PT do Planalto em 2026. Hoje, no entanto, a divisão entre forças conservadoras e moderadas pode acabar ajudando os petistas. Será que essa divisão vai perdurar até o ano que vem? Se essa pendenga continuar, as chances de retirar Lula do poder diminuem, qualquer que seja o candidato oposicionista. Por isso, se a direita quiser se manter no páreo, é hora de lamber as feridas, buscar união e deixar as diferenças de lado.