Olhe novamente a foto acima. Trata-se de John Lydon, que ficou conhecido como Johnny Rotten na época em que esse instantâneo foi tirado. Entre 1975 e 1978, ele fazia parte da banda “Sex Pistols” e deve ter sido um dos primeiros símbolos mundiais do movimento punk. Em seus shows, era comum trocar sopapos e cusparadas com a plateia. Em 1º de dezembro de 1976, protagonizou um escândalo de proporções nucleares no Reino Unido: ele foi o primeiro britânico a dizer um palavrão durante a programação ao vivo da BBC, no programa “Today”, que ia ao ar às seis da tarde nos dias de semana.
Hoje, ele mora em um subúrbio na Califórnia, é cidadão americano, votou em Donald Trump e já usou várias vezes o boné vermelho que virou símbolo do presidente americano (com os dizeres “Make America Great Again”).
Durante muitas décadas, os jovens rebeldes seguiram uma trajetória semelhante à de Lydon: assim que envelheceram se transformaram em conservadores como seus pais. Os adolescentes roqueiros que se encantaram com Elvis, os fãs de Beatles e Rolling Stones da década de 1960 e os cabeludos dos anos 1970 foram pelo mesmo caminho. Tanto que o compositor Belchior compôs uma canção clássica, imortalizada na voz de Elis Regina.
Essa música (“Como nossos pais”), de 1976, chamava atenção para a juventude que se absorvia à medida que envelhecia os valores das gerações passadas: “Hoje eu sei que quem me deu a ideia/ De uma nova consciência e juventude/ ‘Tá em casa/ Guardado por Deus/ Contando o vil metal/ Minha dor é perceber/ que apesar de termos feito/ Tudo o que fizemos/ Ainda somos os mesmos/ E vivemos como nossos pais/ Ainda somos os mesmos/ E vivemos como nossos pais”.
A canção me veio à cabeça quando conversava nesta semana com um amigo, que está desenvolvendo um trabalho de orientação financeira a jovens empresários. Ele percebeu algo que eu também havia captado em meu radar: a juventude de hoje tem uma rebeldia diferente, que dificilmente vai se transformar em conservadorismo no futuro.
Esses jovens têm lá suas ambições. Mas, antes de mais nada, não querem desenvolver seus projetos apenas pelo retorno material. A maioria tem preocupações legítimas com o futuro do planeta e e está muito conectada com questões ambientais e de inclusão.
Olham para seus pais como um exemplo de pessoas que precisam ser aperfeiçoadas ou mesmo reinventadas. Mas não fazem grandes escândalos sobre isso. Preferem tocar a vida de uma forma diferente, procurando dosar suas energias em diversos projetos – e preservando um tempo importante para manter intactas suas horas de lazer.
Trata-se de uma abordagem diante da vida completamente diferente das gerações anteriores. Eles estão certos e nós errados? Talvez não exista erro e acerto quando comparamos jovens nascidos em décadas diferentes. O fato é que o mundo mudou muito nos últimos anos. Seria muito estranho se os jovens de hoje não fossem diferentes do que fomos no passado. Tivemos uma repetição de comportamento entre os anos 1950 e 2000 – até porque, neste período de tempo, a tecnologia e o estilo de vida não sofreram grandes rupturas. O mundo digital, no entanto, virou o cotidiano das pessoas de cabeça para baixo. E, assim, provocou transformações que vão se aprofundar ainda nos próximos anos. Aqueles que tiverem a mente aberta e se sintonizar com esses jovens terão muito a ganhar.
Quem se habilita?
Publicado em 28/06/25