A nova onda de tarifas anunciadas pelos Estados Unidos reacendeu o debate sobre a vulnerabilidade econômica brasileira em meio à escalada da disputa comercial global. No programa Painel exibido pela BM&C News, os economistas Bruno Musa, Roberto Dumas e o especialista em direito internacional Manuel Furriela alertaram para o desequilíbrio dessa guerra tarifária e os potenciais prejuízos para setores estratégicos da economia nacional. “Quer bater de frente com um faixa preta de jiu-jitsu sendo uma criança de 10 anos?”, questionou Musa, ao analisar as chances de o Brasil conseguir retaliar as tarifas americanas. “Qual é a chance de apanhar? 100%.”
Apesar do discurso político de enfrentamento, o Brasil teria pouco poder real de barganha. A economia brasileira depende das exportações para os Estados Unidos, especialmente em setores de alto valor agregado. Dumas chamou atenção para isso com números concretos: “Cerca de 85% do que eu exporto de semiacabados de aço vai para China e Estados Unidos, e 65% das aeronaves e partes exportadas vão para os Estados Unidos. Ou seja, se a gente olhar pela balança comercial, eu tendo a perder mais do que os Estados Unidos.”
Além do aço e da indústria aeronáutica, produtos como suco de laranja e celulose também estão na mira. “A gente exporta 43% do suco de laranja para os EUA”, disse Dumas. “No fim das contas, meu suco vai ficar mais caro e eu posso perder mercado.”
O Painel também discutiu se a retórica mais agressiva do governo pode ter algum ganho político interno. Furriela alertou para o risco de desgastes desnecessários com os principais parceiros comerciais: “Os Estados Unidos não estão nos cobrando um posicionamento. Por que então criar atritos gratuitos com quem é nosso maior investidor e um dos principais compradores de produtos industrializados brasileiros?”
A condução da política externa foi criticada por seu caráter improvisado e ideológico. Para Dumas, o Brasil comprou uma briga que não precisava: “A China passou o governo Biden inteiro se preparando para a volta do Trump. Nós não. O Lula pega o microfone e diz que vai acabar com o dólar. Nem a China fala isso em público.”
Caminhos possíveis para o Brasil
Apesar do cenário adverso, os especialistas destacaram que ainda há espaço para negociação. Furriela propôs separar os temas: comércio, justiça e regulação de big techs. “A parte judicial é outro poder, não há como negociar. Mas no comércio dá pra sentar e negociar setor por setor. O Brasil já tem tarifa zero para muitos produtos americanos.”
O recado final foi no caminho de que é preciso abandonar a retórica e retomar o pragmatismo. “Vamos parar de patrioteio e cuidar da política doméstica. Não é hora de atiçar a onça com vara curta”, resumiu Dumas.
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