As exportações do agro brasileiro somaram US$ 82 bilhões no primeiro semestre de 2025, segundo dados divulgados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). O resultado representa uma leve retração de 0,2% em relação ao mesmo período do ano passado, mas confirma a força do setor, que respondeu por 49,5% de todas as exportações brasileiras no período.
O desempenho foi impulsionado principalmente por três produtos: soja em grãos, café verde e carne bovina in natura, que juntos representaram 60% da pauta exportadora do agro. Apesar da pequena retração no valor total, alguns produtos bateram recordes históricos de receita, como o café, cujos embarques cresceram 47,4% em valor, mesmo com queda de 17,5% no volume exportado.
Exportações de soja e café são destaque do agro
A soja em grãos continua sendo o carro-chefe do agro nacional. O Brasil exportou 64,9 milhões de toneladas no semestre, um crescimento de 1,2% em volume. No entanto, o preço médio internacional caiu 10%, fazendo com que a receita caísse para US$ 25,4 bilhões, queda de 8,9%. A China segue como o principal destino, respondendo por 74,6% das compras, equivalente a US$ 19 bilhões.
No sentido oposto, o café verde teve uma alta expressiva de 47,4% em valor, mesmo com redução de 17,5% na quantidade exportada. O total exportado chegou a US$ 7,2 bilhões, o maior valor já registrado na série histórica. A valorização do produto foi determinante: o preço médio subiu 78,7%. A União Europeia foi o principal destino (US$ 3,3 bi), seguida pelos Estados Unidos (US$ 1,2 bi), Japão (US$ 474,8 mi) e Turquia (US$ 280,9 mi).
Carne bovina quebra recorde no agro e cresce nos EUA
A carne bovina in natura também apresentou desempenho expressivo, com US$ 6,6 bilhões exportados, alta de 27,7% em relação a 2024. O volume embarcado cresceu 13%, totalizando 1,3 milhão de toneladas. A China absorveu quase metade das exportações (48,8%), enquanto os Estados Unidos registraram a maior alta: +142%, somando US$ 791,2 milhões e se consolidando como segundo maior destino da carne brasileira.
A China manteve a liderança absoluta nas compras do agro brasileiro, com 33,8% de participação, seguida pela União Europeia (14,7%) e Estados Unidos (8,1%). O destaque vai para itens como o suco de laranja, em que os EUA representaram 43,6% das vendas brasileiras.
10 produtos mais exportados
Produto | Valor Exportado (US$ bilhões) | Volume (milhões de toneladas) |
---|---|---|
Soja em grãos | 25,4 | 64,9 |
Café verde | 7,2 | 1,1 |
Carne bovina in natura | 6,6 | 1,3 |
Celulose | 5,4 | 11,4 |
Açúcar de cana em bruto | 5,0 | 11,1 |
Carne de frango in natura | 4,2 | 2,2 |
Farelo de soja | 4,0 | 11,5 |
Algodão | 2,5 | 1,5 |
Carne suína in natura | 1,6 | 0,63 |
Suco de laranja | 1,5 | 0,95 |
As importações do agro brasileiro cresceram 6,1%, totalizando US$ 10,1 bilhões, com destaque para o aumento no custo de fertilizantes e defensivos agrícolas. A participação do agro nas importações totais do Brasil caiu levemente, de 7,6% para 7,4%.
As tarifas de Trump e os impactos no setor agro
O governo brasileiro já articula possíveis saídas diplomáticas e comerciais após o tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na semana passada. A medida impôs uma alíquota de 50% sobre produtos brasileiros, gerando preocupações em setores estratégicos da economia, como o agronegócio. Diante do impacto potencial sobre as exportações, especialmente de commodities como café e suco de laranja, o Brasil avalia apresentar possíveis propostas para suavizar os efeitos da decisão americana.
Entre os rumores que circulam, os caminhos estudados pelo Palácio do Planalto estão a redução da tarifa para 30%, o adiamento da vigência das novas regras, previstas para entrarem em vigor no dia 1º de agosto, por um período de 60 a 90 dias, e a criação de cotas de exportação para preservar parte do volume comercializado. De acordo com fontes do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva orientou a equipe ministerial a manter firmeza nas negociações com os Estados Unidos, ressaltando que, historicamente, Trump só recua diante de posicionamentos igualmente firmes.
Reduzir tarifa de 50% para 30% não mudaria em nada
Para Alê Delara, sócio-diretor da Pine Agronegócios, a possível tentativa do governo brasileiro de reduzir a tarifa de 50% para 30% não resolve o problema central da competitividade. “Não faz sentido pedir uma redução de 50% para 30%, já que não muda nada em termos de competitividade.“
Em relação às cotas de exportação, Delara vê algum benefício no curto prazo por criarem previsibilidade para os exportadores, ao garantirem um volume isento de tarifas. No entanto, alerta que o mecanismo carrega riscos consideráveis de longo prazo. “Cotas criam um teto artificial para a participação de mercado. Perdemos espaço para concorrentes não afetados por restrições”, afirma.
Além disso, o especialista chama atenção para o risco de concentração de mercado. “Se não houver um modelo transparente de distribuição das cotas, os grandes grupos acabam capturando boa parte do mercado, sufocando pequenos e médios produtores, especialmente no caso do café. No suco de laranja, o cenário é ainda mais delicado, pois o setor já funciona como um oligopólio”, conclui Delara.
Tarifa de Trump: um problema que o Brasil não causou
Para o analista de economia e política Miguel Daoud, o Brasil não deveria sequer cogitar negociar uma tarifa de 30% após ter sido surpreendido por uma medida que considera “emocional e política” por parte do governo Trump. “Já começarmos propondo uma redução de 50% para 30% é admitir que aceitamos a lógica da punição. Isso nos enfraquece como parceiro comercial e nos coloca em posição inferior numa mesa de negociação que nem deveríamos estar”, afirmou.
Daoud acredita que o governo americano pode ainda recuar antes mesmo de o Brasil tomar uma decisão definitiva, e que a prorrogação desse cenário apenas prolonga a insegurança no setor exportador. “Enquanto essa espada estiver sobre a cabeça dos exportadores, o país vive sob pressão. O ideal seria uma solução definitiva, e não o Brasil tentando propor termos para um problema que não causou”, conclui.
Cotas no agro: alívio imediato ou ameaça à competitividade do Brasil?
A proposta de adoção de cotas de exportação para produtos do agro brasileiro, como café e suco de laranja, vem ganhando espaço nas discussões entre governo e setor produtivo como uma alternativa diante das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos. No entanto, especialistas alertam que a medida pode comprometer a competitividade do agro no médio e longo prazo.
Alê Delara, afirma que as cotas funcionam como alívio momentâneo, oferecendo previsibilidade ao garantir um volume mínimo de exportação isento de sobretaxa. “Mas, na prática, criam um teto artificial que trava o crescimento do agro brasileiro no mercado internacional”, afirma o especialista.
Segundo Delara, o risco é ainda maior em cadeias produtivas com estruturas sensíveis, como a do café, composta majoritariamente por pequenos e médios produtores, e a do suco de laranja, concentrada em grandes conglomerados do agro. “No café, a falta de um modelo transparente para distribuição de cotas pode excluir os pequenos. E no suco de laranja, a tendência é ampliar a concentração em um setor que já funciona como oligopólio”, alerta.
Cotas no agro: alívio imediato ou ameaça à competitividade do Brasil?
A proposta de adoção de cotas de exportação para produtos do agro brasileiro, como café e suco de laranja, vem ganhando espaço nas discussões entre governo e setor produtivo como uma alternativa diante das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos. No entanto, especialistas alertam que a medida pode comprometer a competitividade do agro no médio e longo prazo.
Para Alê Delara, sócio-diretor da Pine Agronegócios, as cotas funcionam como alívio momentâneo, oferecendo previsibilidade ao garantir um volume mínimo de exportação isento de sobretaxa. “Mas, na prática, criam um teto artificial que trava o crescimento do agro brasileiro no mercado internacional”, afirma o especialista.
Segundo Delara, o risco é ainda maior em cadeias produtivas com estruturas sensíveis, como a do café, composta majoritariamente por pequenos e médios produtores, e a do suco de laranja, concentrada em grandes conglomerados do agro. “No café, a falta de um modelo transparente para distribuição de cotas pode excluir os pequenos. E no suco de laranja, a tendência é ampliar a concentração em um setor que já funciona como oligopólio”, alerta.