O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,24% em junho, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (10) pelo IBGE. A variação representa uma leve desaceleração frente aos 0,26% observados em maio. No acumulado de 2025, o índice já soma alta de 2,99%. Em 12 meses, o avanço chega a 5,35%, levemente acima dos 5,32% registrados até maio.
O principal destaque de alta no mês veio do grupo Habitação, puxado pela energia elétrica residencial, que subiu 2,96% e representou o maior impacto individual no índice de junho (0,12 ponto percentual). A bandeira tarifária vermelha patamar 1 entrou em vigor no mês, adicionando R$ 4,46 a cada 100 kWh consumidos.
Entre os reajustes regionais de energia elétrica, os mais expressivos foram registrados em Belo Horizonte (+8,57%), Porto Alegre (+4,41%) e Curitiba (+3,28%). No acumulado do ano, a energia elétrica já subiu 6,93%, o maior avanço para o primeiro semestre desde 2018.
Além disso, o grupo Habitação também foi influenciado pela alta na taxa de água e esgoto (+0,59%), com reajustes em Brasília, Rio Branco, Curitiba e Porto Alegre.
Por outro lado, o grupo Alimentação e bebidas, de maior peso no índice, foi o único a apresentar variação negativa no mês (-0,18%). A queda foi puxada pela alimentação no domicílio, que recuou 0,43%, com destaque para ovos de galinha (-6,58%), arroz (-3,23%) e frutas (-2,22%). Já o tomate subiu 3,25%.
A alimentação fora do domicílio registrou alta de 0,46%, puxada pelo subitem lanche (0,58%). A refeição desacelerou de 0,64% em maio para 0,41% em junho.
No grupo Transportes (0,27%), mesmo com a queda nos combustíveis (-0,42%), a alta nos serviços como transporte por aplicativo (+13,77%) e conserto de automóvel (+1,03%) compensaram o recuo. Em Belo Horizonte, o reajuste médio de 8,71% nas tarifas de táxi contribuiu para um avanço local de 6,54% no item.
Entre os nove grupos pesquisados, os demais apresentaram variações entre 0,00% (Educação) e 0,75% (Vestuário). Neste último, houve alta em itens como roupas masculinas (+1,03%), calçados e acessórios (+0,92%).
IPCA: desempenho regional
A maior variação regional foi registrada em Rio Branco, com alta de 0,64%, impulsionada pela energia elétrica (3,99%) e pelo item cinema, teatro e concertos (77,22%) após o fim da promoção de meia entrada.
Já Campo Grande apresentou deflação de 0,08% em razão da queda nas frutas (-5,15%) e na gasolina (-1,38%).
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação para famílias com renda de até cinco salários mínimos, teve alta de 0,23% em junho, ante 0,35% em maio. No ano, o índice acumula alta de 3,08% e, em 12 meses, de 5,18%.
Assim como no IPCA, os alimentos tiveram recuo (-0,19%), enquanto os não alimentícios subiram 0,37%. A maior alta regional do INPC foi em Belo Horizonte (0,55%), seguida por Rio Branco (0,51%). A menor variação ocorreu em Porto Alegre, com queda de 0,10%.
IPCA traz surpresa altista
Para Leonardo Costa, economista do ASA, a leitura do IPCA de junho trouxe uma surpresa altista, especialmente nos itens mais voláteis, como alimentos e combustíveis, este último ainda refletindo repasses residuais limitados do último corte de preços anunciado pela Petrobras.
“Apesar da alta, o dado ainda mostra um saldo qualitativo melhor do que o observado nos últimos meses, com uma desaceleração gradual do núcleo de serviços”, avalia. Segundo ele, a surpresa inflacionária do mês pode conter parte do otimismo recente com a inflação de curto prazo que havia se formado após o IPCA-15, mas não altera a percepção de uma tendência mais benigna no comportamento estrutural da inflação.
IPCA no radar dos negócios e dos investidores
Segundo Jorge Kotz, CEO do Grupo X, a persistência da inflação fora da meta compromete a confiança no ambiente de negócios. “A imprevisibilidade nos preços corrói margens, aumenta o custo de capital e dificulta decisões estratégicas. Sem uma âncora fiscal sólida e uma política econômica coerente, o setor produtivo é forçado a operar em modo defensivo, reduzindo investimentos e adiando planos de expansão. Isso acaba travando o potencial de crescimento sustentável do país”, afirma o executivo.
Para Theo Braga, da SME The New Economy, entender os fundamentos macroeconômicos deixou de ser uma vantagem competitiva e passou a ser uma exigência mínima para quem lidera. “O novo perfil de liderança precisa unir visão analítica e capacidade de execução em cenários incertos. A volatilidade não é mais exceção, e sim parte da rotina. Empresas que investem em educação contínua e modelos de gestão adaptáveis têm mais chances de prosperar mesmo diante de choques externos e instabilidades políticas”, conclui.