O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta quarta-feira (9) que o Brasil será diretamente impactado por uma nova rodada de tarifas sobre produtos importados, com alíquotas que podem variar entre 25% e 40%. “O Brasil, por exemplo, não tem sido bom conosco, nada bom”, declarou o republicano durante um evento na Casa Branca. A medida faz parte da segunda leva de notificações a parceiros comerciais, com validade a partir de 1º de agosto, e acende um alerta para os efeitos sobre a economia brasileira, especialmente nas exportações.
Tarifas de Trump no radar: empresas precisam diversificar rotas e fortalecer estruturas
Para o especialista Theo Braga, CEO da SME The New Economy, o anúncio de novas tarifas representa um risco concreto à economia brasileira, especialmente no que diz respeito ao comércio exterior. Segundo ele, a medida tende a pressionar a inflação, dificultar o planejamento empresarial e aumentar a percepção de risco no mercado de crédito, o que encarece o acesso ao capital.
“Para os investidores, o momento exige cautela, diversificação e foco em ativos defensivos, já que a volatilidade tende a aumentar nos próximos meses”, alerta. Braga também destaca que a ameaça de taxar os países do BRICS intensifica a tensão geopolítica e pode afetar diretamente a competitividade das exportações brasileiras.
Brasil na rota do risco das tarifas de Trump: impactos vão além do comércio
Para Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, as novas declarações de tarifas por parte de Donald Trump sinalizam um possível recrudescimento do ambiente global, com impactos diretos sobre países do BRICS, como o Brasil. Segundo o especialista, esse cenário afeta os fluxos de investimento e a precificação dos ativos, exigindo cautela estratégica, sobretudo das empresas exportadoras.
“Além da elevada carga tributária interna, um novo custo externo pressiona as margens e pode demandar redesenho logístico ou até reposicionamento geográfico da produção”, avalia. Eyng ressalta ainda que a combinação entre insegurança jurídica no Brasil e instabilidades internacionais aumenta a aversão ao risco, o que, na visão dele, deve manter a taxa básica de juros em níveis elevados por mais tempo, tanto para conter pressões inflacionárias quanto para preservar a credibilidade em meio ao cenário fiscal desafiador.
Taifas de Trump ampliam a vulnerabilidade fiscal e cambial
Gustavo Assis, CEO da Asset Bank, também destaca a combinação de fragilidade fiscal doméstica e escalada de tensões comerciais internacionais como fator de pressão nos preços dos ativos brasileiros. “A sinalização de Trump sobre tarifas generalizadas aos países do BRICS pressiona a percepção de risco, justamente num momento em que já convivemos com juros elevados e instabilidade jurídica”, avalia.
Diante disso, Assis recomenda que empresas com exposição internacional revisem urgentemente suas estratégias de hedge cambial, diversificação de mercados e estrutura logística, para evitar perdas operacionais diante de novos entraves tarifários.
Agronegócio e indústria na mira: confiança em xeque
Na avaliação de Pedro Ros, CEO da Referência Capital, o recado do mercado é claro: o Brasil está perdendo atratividade para o capital produtivo. “A queda do Ibovespa ocorre num momento em que o país precisaria exatamente do contrário — estabilidade e previsibilidade. O protecionismo de Trump pode penalizar duramente o agronegócio e a indústria brasileira”, afirma.
Para Ros, a resposta deve vir do setor privado, com empresas se antecipando a cenários adversos, reforçando compliance, estrutura tributária e mapeamento de riscos geopolíticos.
Sem estratégia clara, risco aumenta para investidores e empresas
André Matos, CEO da MA7 Negócios, vê o movimento do Ibovespa como um reflexo direto do vácuo estratégico do Brasil diante de uma nova onda de protecionismo global. “As declarações de Trump colocam o Brasil numa rota de colisão tarifária justamente quando tentamos manter alguma tração na balança comercial”, diz.
Segundo ele, o ambiente interno, marcado por ausência de segurança jurídica e falta de diretrizes claras de defesa econômica, agrava a vulnerabilidade do país. “É hora de as companhias se blindarem com segurança jurídica, estrutura de capital eficiente e presença em mercados menos expostos à instabilidade geopolítica”, conclui.