O mercado segue de olho nas negociações das tarifas de Trump e nos impactos econômicos de decisões tomadas em um contexto cada vez mais geopolítico. O adiamento da medida para agosto não eliminou a incerteza, ao contrário, ampliou a complexidade do cenário para países emergentes como o Brasil, que precisam lidar com riscos comerciais, disputas simbólicas como a desdolarização e divergências internas em sua política externa. Especialistas ouvidos pela BM&C News apontam que o momento exige adaptação rápida, leitura estratégica e atenção redobrada aos movimentos que podem redesenhar a arquitetura econômica global.
Incerteza nas tarifas e riscos para o Brasil
Para o economista e doutor em relações internacionais Igor Lucena, a decisão de Trump de adiar a imposição das tarifas para agosto revela uma indefinição estratégica nas negociações comerciais dos Estados Unidos. A expectativa era de que as novas taxas fossem anunciadas já no dia 9, mas o adiamento, ainda que breve, indica que acordos importantes seguem em negociação, especialmente com a União Europeia, considerada uma peça central no tabuleiro global.
No caso do Brasil, Lucena avalia que a tentativa de incluir todos os produtos nas tarifas de 10% encontra barreiras práticas e políticas. “Grande parte do que exportamos já está nos 10%, e isso, por ora, nos protege. Mas o presidente Trump está mirando setores que ele considera sensíveis à economia americana“, afirma.
O maior ponto de tensão, segundo Lucena, é simbólico: a posição do BRICS em defesa da desdolarização do comércio internacional. Para Trump, essa agenda representa uma afronta direta à hegemonia econômica dos Estados Unidos, e a resposta, ainda que em tom de ameaça, veio durante a própria cúpula do bloco.
O especialista ressalta que o Brasil pode sair prejudicado ao manter discursos internos desalinhados: “Enquanto o Itamaraty tenta manter negociações técnicas com Washington, a retórica do governo federal e a aproximação política com o BRICS podem ser interpretadas como provocação. Isso complica o espaço diplomático que temos até agosto“, conclui.
Tarifas podem acirrar tensões e exigir reação rápida
Para Theo Braga, CEO da SME The New Economy, uma eventual imposição da tarifa adicional pelos Estados Unidos pode inaugurar um novo ciclo de tensões geopolíticas com efeitos diretos sobre cadeias globais de produção e consumo. Ele destaca que, diante desse cenário, empresários e investidores precisarão acelerar sua capacidade de adaptação.
“Diversificação de mercados, análise de risco político e fortalecimento da governança se tornam ainda mais estratégicos”, afirma. No caso do Brasil, Braga alerta para um impacto em dobro: tanto como alvo direto de tarifas quanto como elo mais vulnerável em um ambiente global que tende a punir países que não agirem com rapidez.
Incertezas sobre tarifas aumentam volatilidade e exigem inteligência estratégica
Já André Matos, CEO da MA7 Negócios, chama atenção para os efeitos que a incerteza imposta por medidas como essa pode ter sobre a previsibilidade do ambiente internacional. Para ele, a tarifa proposta afeta diretamente o planejamento das empresas com exposição externa e amplia o risco sistêmico.
“Para quem atua com ativos estressados, isso é um sinal claro de que mais oportunidades podem surgir, mas também exige cautela redobrada na originação e estruturação dos negócios”, avalia. Matos destaca que, nesse novo contexto, o investidor precisa antecipar movimentos e identificar onde há desalinhamentos geopolíticos que possam gerar distorções de valor.
Fragmentação global impõe nova lógica ao investidor brasileiro
João Kepler, CEO da Equity Group, interpreta a declaração de Trump como parte de um movimento maior de fragmentação global e fortalecimento de posturas nacionalistas no comércio internacional. Segundo ele, isso pressiona o Brasil e outras economias emergentes a reverem suas estratégias de internacionalização e estruturação de cadeias de suprimento. “O investidor precisa entender que o jogo mudou: não é só sobre retorno financeiro, mas sobre geopolítica, estabilidade institucional e posicionamento estratégico”, afirma Kepler. Ele reforça que, em momentos de instabilidade, a capacidade de adaptação rápida e a leitura precisa do cenário se tornam essenciais para preservar valor e explorar novas oportunidades.