Mesmo diante de um Brasil sujeito a riscos estruturais, instabilidade fiscal, mudanças climáticas e insegurança jurídica, o seguro ainda é visto como um custo, não como uma ferramenta estratégica de proteção patrimonial. É o que afirma Christian Wellisch, CEO da Maldivas, holding de seguros que aposta em tecnologia e leveza operacional para transformar o setor.
Em entrevista ao programa Mercado & Beyond, Wellisch traça um panorama crítico do mercado segurador brasileiro, que, segundo ele, ainda sofre com baixa penetração, falhas de comunicação, preconceito cultural e uma linguagem técnica que afasta os consumidores.
“A gente sempre olha para seguro como custo. E isso vem de uma percepção cultural. A má propaganda é sempre a que chega. Mas o seguro não é feito para gerar lucro, e sim para reequilibrar a economia da sociedade”, destacou.
Seguro: Uma indústria que não se comunica
Para o CEO da Maldivas, o principal entrave do setor é a dificuldade de se comunicar com o público de forma acessível e transparente. “Pouca gente para para ler uma apólice. Muitas vezes, o cliente só descobre que está mal protegido quando acontece um sinistro. Isso mostra que o problema não está no produto, mas na forma como ele é vendido e compreendido”, afirmou.
Segundo ele, o mercado de investimentos, com a entrada de plataformas digitais e assessores bem preparados, passou por um processo de educação que precisa agora se repetir na indústria de seguros. “O corretor de seguros precisa virar um advisor patrimonial. A proteção vai muito além do carro ou da saúde.”
Insurtechs, sandbox e transformação no setor de seguro
A inovação começa a ganhar espaço, puxada por iniciativas como o modelo sandbox regulatório da Susep e pelo crescimento das insurtechs, que simplificam produtos e oferecem experiências digitais.
“Esses novos modelos desafiam o setor tradicional, tiram todos da zona de conforto e exigem uma abordagem mais conectada com o consumidor. Ainda estamos no começo, mas estamos vendo mudanças importantes”, disse Wellisch.
Ele acredita que os seguros on-demand, por assinatura e precificados por comportamento devem ganhar escala no Brasil — como já ocorre em mercados mais maduros. “A nova geração não quer pagar pelos outros. Quer um produto justo, digital e prático.”
Inteligência artificial e personalização de seguro
Wellisch também destacou o papel da inteligência artificial na automação de processos, melhoria da jornada de conversão e, principalmente, na precificação individual dos riscos.
“Hoje, no seguro saúde, por exemplo, precificamos grupos. Mas o futuro está em precificar o indivíduo com base em comportamento real, como hábitos saudáveis, dados de wearables, direção consciente. Isso trará mais justiça na formação de preços.”
Segundo ele, a IA não substitui o humano, mas exige ainda mais sofisticação do corretor. “A tecnologia precisa andar junto com um atendimento consultivo e especializado. É isso que o cliente busca.”
Seguro – um setor resiliente, mas pouco compreendido
Com mais de R$ 600 bilhões em prêmios anuais e responsável por bilhões em indenizações durante a pandemia, o setor de seguros é um dos maiores investidores institucionais do país, mas ainda é marginalizado na percepção pública.
“As pessoas não sabem que por trás de uma ação promocional em um jogo da NBA, como arremessar a bola do meio da quadra por um prêmio, há uma apólice de seguro. Isso mostra até onde a indústria pode ir. Só que ninguém conta essa história.”
Para o CEO, o Brasil tem todas as condições de ser um polo de inovação global na indústria de seguros, basta deixar de enxergar o setor como um mal necessário.
A trajetória da Maldivas
Criada para ser uma empresa ágil, digital e com foco em transformação, a Maldivas surgiu como um experimento. Hoje, é uma holding que participa de várias operações no setor. “A gente não nasceu pronto. Mas nasceu com coragem. Nossa missão é desafiar o modelo tradicional e escalar uma nova forma de se pensar seguros no Brasil.”
Segundo Wellisch, o diferencial da companhia está na visão clara de futuro, na humildade para aprender com outros setores e na vontade de fazer o que é certo, sem atalhos. “Foco, valores corretos e execução. É isso que define a Maldivas.”