O Microempreendedor Individual, conhecido pela sigla MEI, foi implementado no Brasil no final de 2008 com a finalidade de promover a formalização de profissionais autônomos e pequenos empreendedores. A iniciativa buscava permitir que trabalhadores informais pudessem registrar seus negócios de maneira simples, obtendo acesso a uma série de benefícios previdenciários e fiscais, como aposentadoria, auxílio-doença e salário-maternidade, além de facilitar a emissão de notas fiscais e a abertura de contas bancárias empresariais.
Ao longo dos anos, o programa cresceu de forma significativa, saltando de poucos milhares de inscritos em sua fase inicial para aproximadamente 16,3 milhões de trabalhadores formalizados até o término de 2024. Essa expansão ocorreu em paralelo à adoção de alíquotas reduzidas para a contribuição previdenciária, fator que garantiu acessibilidade, mas trouxe consequências para a sustentabilidade financeira do sistema.
Como funciona o regime de contribuição do MEI?
O modelo do MEI permite ao empreendedor formalizado recolher tributos em valor fixo mensal, geralmente correspondente a uma pequena fração do salário mínimo, atualmente estabelecida em 5%. Além da contribuição previdenciária, são incluídos valores simbólicos para os impostos municipais e estaduais, como ISS e ICMS, dependendo da atividade econômica exercida.
No entanto, a baixa arrecadação gerada pelo regime do MEI em relação à quantidade de benefícios oferecidos provoca impacto direto no equilíbrio do Regime Geral de Previdência Social (RGPS). Segundo estimativas recentes, o déficit previsto no sistema pode atingir R$ 1,9 trilhão ao longo das próximas sete décadas, caso o modelo permaneça sem alterações relevantes.
Qual é o perfil dos microempreendedores atuais?
Apesar do objetivo inicial de atender trabalhadores de baixa renda com dificuldades de acesso à formalização, pesquisas revelam outro cenário. Dados cruzados entre registros do Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e levantamentos domiciliares apontam que mais de 80% dos registrados como MEI pertencem à metade economicamente mais favorecida da população. Apenas uma parcela inferior a 18% está compreendida entre os 50% mais pobres.
Esse quadro indica que a política pública, na prática, beneficia predominantemente grupos com maior nível de escolaridade e renda. Profissionais como designers, consultores e técnicos, que tradicionalmente já teriam acesso a empregos formais com carteira assinada, migraram para o modelo MEI por sua simplicidade e menores custos operacionais.

MEI: ajustes em debate e o impacto no futuro da Previdência?
Nos últimos anos, surgiram debates acerca da necessidade de atualização do teto de faturamento anual do MEI, atualmente definido em R$ 81 mil. Propostas circulam no Congresso para ampliar esse limite a R$ 130 mil ou mais, motivadas pela inflação acumulada e pela modernização econômica. Integrantes do governo federal também sugerem a aplicação de uma tabela progressiva de contribuições, proporcional ao faturamento, como forma de equilibrar receitas e despesas previdenciárias.
Entretanto, esse debate ocorre em meio a desafios para o financiamento da Previdência, agravados pela baixa adesão ao pagamento dos tributos obrigatórios. Apenas um terço dos cadastrados mantém regularidade na contribuição, o que amplia os riscos de comprometimento orçamentário para as próximas gerações. Especialistas alertam para o risco de aprofundar desequilíbrios estruturais e defendem uma ampla revisão das regras, resgatando a finalidade social do programa, mas sem comprometer a viabilidade do RGPS.
- Vantagens para o trabalhador: Direito a benefícios previdenciários, simplificação tributária e possibilidade de emissão de notas fiscais.
- Problemas identificados: Baixa arrecadação relativa, alto índice de inadimplência e distorção do perfil de atendimento.
- Propostas em análise: Ampliação do teto anual, tabela de contribuição progressiva e revisão dos critérios de elegibilidade.
A experiência do MEI destaca a importância de políticas públicas bem orientadas, capazes de promover inclusão social sem riscos à sustentabilidade dos sistemas previdenciários. O contínuo monitoramento das regras e a busca por equilíbrio entre acessibilidade e contribuição efetiva permanecem no centro do debate sobre o futuro do trabalho formal no Brasil.