O procurador-geral da República, Paulo Gonet, participou nesta semana do XIII Fórum Jurídico de Lisboa, onde destacou a crescente ameaça do crime organizado no Brasil e no mundo, com a criação de uma economia paralela que desafia a soberania do Estado. Durante o painel “Segurança pública e federalismo cooperativo: enfrentando as organizações criminosas”, Gonet alertou sobre a necessidade urgente de atualização das metodologias de combate e a cooperação entre os entes federativos para enfrentar essa ameaça.
“O crime organizado não pode ser desconhecido. Ele está instaurando uma economia paralela no centro da ilegalidade, movimentando cerca de US$ 300 bilhões“, afirmou Gonet.
O procurador ressaltou que as estratégias tradicionais de repressão já não são suficientes para lidar com a complexidade e sofisticação dessas organizações. “O modelo voltado para crimes de ‘bar da esquina’ já não é mais adequado. Precisamos de técnicas de abordagem atualizadas, condizentes com a organização e operação dessas redes criminosas”, explicou Gonet.
Cibercrime: o novo foco da criminalidade global
Gonet também abordou o impacto crescente do cibercrime, que se tornou mais lucrativo que o tráfico de drogas. Enquanto o narcotráfico movimenta US$ 15 bilhões anualmente, o cibercrime já supera essa cifra em dez vezes, conforme estimativas citadas pelo procurador. Ele destacou a crescente vulnerabilidade digital do Brasil, que se tornou o 5º país do mundo em número de ataques cibernéticos, com prejuízos anuais estimados em US$ 10 bilhões, segundo a Febraban.
“O Brasil é o 5º país do mundo em número de ataques cibernéticos. A Febraban estima US$ 10 bilhões em prejuízos por ano, o que mostra o quanto o crime já ocupou também o espaço digital“, afirmou Gonet.
Para ele, esse avanço digital da criminalidade exige uma resposta integrada e estratégica, que envolva organizações públicas e privadas, além de inteligência cibernética aprimorada para proteger as infraestruturas críticas do país.
“Paraíso penal” e a necessidade de federalismo cooperativo para conter o crime organizado
Gonet alertou que a falha em dar respostas eficazes ao crime organizado pode transformar países em “paraísos penais”, onde a criminalidade cresce sem controle. Para evitar que o Brasil siga esse caminho, o procurador defende uma reformulação nas estratégias de combate ao crime, incluindo um federalismo cooperativo que envolva uma integração real entre União, estados e municípios.
“Precisamos interromper essa governança paralela imposta pelo crime“, declarou Gonet.
O procurador reforçou a importância da cooperação efetiva entre os entes da federação para enfrentar a criminalidade de maneira coordenada e integrada. Ele destacou que a integração dos órgãos de segurança pública e de inteligência é fundamental para responder às organizações criminosas de forma eficiente.
A urgência da adaptação para combater o crime organizado
Durante o painel, Gonet concluiu que é fundamental atualizar as metodologias de combate ao crime organizado, com ênfase na integração entre os diferentes níveis de governo. A abordagem deve ser flexível e responder à complexidade das redes criminosas, que atuam tanto no campo físico quanto no digital.
“É urgente atualizar a metodologia de combate ao crime organizado“, finalizou Gonet.
As falas de Paulo Gonet no Fórum Jurídico de Lisboa oferecem um alerta sobre a crescente sofisticação das organizações criminosas e o impacto da economia paralela no Brasil. A necessidade de uma resposta coordenada e inovadora será tema central nas discussões sobre segurança pública, governança e proteção ao mercado nos próximos meses.