O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, criticou à falta de articulação entre os entes federativos no combate ao crime organizado, durante sua participação no Fórum Jurídico de Lisboa. Segundo ele, a atuação das organizações criminosas ultrapassa fronteiras e exige uma resposta coordenada e urgente por parte do Estado brasileiro.
“É impossível pensar em combater o crime organizado sem cooperação federativa. O crime é transnacional. Temos que olhar para as faixas de fronteira, os portos, os aeroportos, as rodovias federais, estaduais e vicinais. Sem integração, não há chance de sucesso”, afirmou.
Tarcísio destacou a complexidade logística do Brasil e como essa realidade favorece a atuação do crime organizado, que se aproveita de brechas regulatórias e da fragilidade da fiscalização em setores estratégicos da economia.
“O tráfico internacional de drogas movimenta muito dinheiro. Parte expressiva dos homicídios no Brasil está relacionada à disputa por pontos de venda de drogas”, alertou.
Crime organizado infiltrado em setores econômicos
O governador apontou ainda a infiltração do crime organizado em áreas como combustíveis, resíduos sólidos, saúde e tecnologia. Segundo ele, há falhas estruturais que facilitam a lavagem de dinheiro, especialmente no setor de combustíveis.
“Por que é tão fácil lavar dinheiro em determinados setores? Por que ainda é tão simples obter regimes especiais tributários em alguns estados, mesmo quando se está internalizando um tipo de combustível, mas comercializando outro?”, questionou Tarcísio, citando o uso indevido de regimes fiscais e a demora na aplicação da solidariedade tributária.
Ele criticou a não aprovação da chamada “lei do devedor contumaz”, que, segundo ele, seria um instrumento fundamental no combate à lavagem de dinheiro.
Prefeitos como aliados na prevenção ao crime organizado
Outro ponto destacado por Tarcísio foi a importância da atuação dos prefeitos na contenção do avanço do crime organizado. Ele defendeu o fortalecimento dos critérios de contratação de organizações sociais de saúde e melhorias nos processos de gestão de resíduos sólidos.
“Precisamos abraçar os prefeitos e ajudá-los a blindar suas cidades da infiltração criminosa. O crime vem se sofisticando e ocupando espaços antes dominados pelo poder público”, alertou.
Cibercrime como nova fronteira da criminalidade
Tarcísio também demonstrou preocupação com o avanço do cibercrime no Brasil e apontou esse fenômeno como uma nova oportunidade de desmantelar redes criminosas por meio do monitoramento e da inteligência digital.
“O número de crimes cibernéticos é assombroso, mas se conseguirmos monitorar esses grupos, podemos puxar o fio da meada e prender muitas lideranças do crime organizado”, declarou.
O governador concluiu ressaltando que o sucesso no enfrentamento da violência no Brasil passa pela desarticulação financeira das organizações criminosas. “Combater a monetização do crime é essencial para restabelecer a autoridade do Estado e proteger os mais vulneráveis”, finalizou.