O Plano Safra 2025/26, anunciado pelo governo com um volume de R$ 516 bilhões, tem sido criticado por falta de efetividade e excesso de discurso político, segundo análise do economista e comentarista Miguel Daoud, durante entrevista à BM&C News. Para ele, o programa é uma “peça de marketing”, que não traz os benefícios práticos esperados pelo agronegócio — setor responsável por sustentar o crescimento do PIB brasileiro nos últimos anos.
“Não há recursos do governo no plano. O que existe são valores que os bancos são obrigados a destinar ao setor por regras do sistema financeiro”, afirmou Daoud. Segundo ele, o anúncio não apresenta claramente valores para equalização de taxas de juros, nem medidas concretas para redução de riscos ao produtor.
Plano Safra: alta de juros e aumento de custos agravam cenário
Daoud também alertou para a alta das taxas de juros, que torna o acesso ao crédito mais caro. “Tínhamos juros na casa de 10,25% no ciclo anterior. Agora, estão em 15%. E isso num cenário em que os custos de produção, como fertilizantes e insumos, também subiram fortemente”, explicou.
Mesmo o Plano da Agricultura Familiar, que historicamente recebe mais atenção, teve aumento tímido de apenas 3%, enquanto o crédito para o agronegócio empresarial subiu apenas 1,5%. Na prática, isso significa que, apesar do valor total elevado, o plano cobre menos hectares do que nas edições anteriores. “Se antes era suficiente para 100 milhões de hectares, hoje cobre cerca de 50 a 60 milhões. Houve uma redução real”, apontou.
Plano Safra no radar: produtor deve buscar independência financeira do governo
Diante da falta de recursos públicos e da crescente burocracia, Daoud defende que o produtor rural reavalie sua dependência do Estado e comece a se financiar por meio de instrumentos do mercado financeiro. “O túnel de compressão dos financiamentos públicos está se estreitando. O agro vai precisar cair no mercado”, disse.
O economista alertou ainda para o cenário fiscal adverso que se projeta nos próximos anos. “Em 2027, o governo não terá dinheiro para nada. Tudo o que arrecadar será para despesas obrigatórias. Essa é a realidade, seja qual for o governo”, afirmou
Seguro rural e títulos do agro como soluções viáveis
Entre as propostas de independência financeira, Daoud destaca a criação de um fundo fixo de pagamento de seguro rural, gerido com autonomia e sem interferência política, além de políticas para reduzir os custos dos títulos do agronegócio, como os CRA (Certificados de Recebíveis do Agronegócio). A ideia é permitir que o setor tenha mais previsibilidade e acesso a capital com menor custo.
“O produtor precisa enxergar o mercado como parte da sua estratégia de financiamento. O plano atual oferece menos do que os anteriores, mesmo com um número alto anunciado. É hora de repensar o modelo”, concluiu.