A economia dos Estados Unidos criou 147 mil vagas de trabalho em junho, segundo dados do payroll, divulgados nesta quinta-feira (3) pelo Departamento do Trabalho. O número veio acima da expectativa do mercado, que projetava a geração de 110 mil postos de trabalho, após a criação de 139 mil vagas em maio.
Além da surpresa positiva no número de vagas, a taxa de desemprego caiu de 4,3% para 4,1%, contrariando a projeção dos economistas consultados pela Reuters, que estimavam uma alta marginal na taxa de desocupação.
O relatório, conhecido como payroll, é um dos principais indicadores acompanhados pelo Federal Reserve (Fed) na condução da política monetária. Dados mais fortes no mercado de trabalho podem reforçar o discurso de cautela da autoridade monetária em relação a cortes na taxa básica de juros, especialmente diante da necessidade de conter pressões inflacionárias.
A leitura acima do esperado, porém moderada em relação aos meses anteriores, pode alimentar a percepção de um “pouso suave” da economia americana, em que o crescimento desacelera sem provocar uma forte deterioração no emprego. Para investidores, os próximos dados de inflação, como o CPI e o PCE, serão determinantes para definir se o Fed terá espaço para iniciar o ciclo de cortes ainda no segundo semestre de 2025.
Dados do payroll: especialistas divergem sobre decisão do FED
Para o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, o relatório de junho reforça a tese de que o Federal Reserve pode iniciar o ciclo de cortes de juros no segundo semestre. “Apesar da criação de 147 mil vagas ter vindo acima da expectativa, houve revisão negativa de 111 mil vagas nos dois meses anteriores, e o ponto mais relevante foi a desaceleração dos salários”, destaca. Cruz lembra que o avanço salarial mensal ficou em 0,2% (ante expectativa de 0,3%) e, na base anual, desacelerou de 3,9% para 3,7%, aproximando-se do nível considerado confortável pelo Fed, em torno de 3,5%.
“Isso ajuda a consolidar a expectativa de um primeiro corte em setembro”, afirma, citando que o monitoramento do CME Group já aponta 71% de probabilidade para a redução na próxima reunião. O estrategista também chama atenção para a queda de 49 mil vagas em serviços temporários, tradicionalmente vista como indicador antecedente do emprego privado, o que sinaliza um comportamento mais cauteloso por parte das empresas.
Para Leonardo Costa, economista do ASA, o relatório de junho surpreendeu positivamente e reforça a resiliência do mercado de trabalho nos Estados Unidos. “A criação de 147 mil vagas, acima das expectativas, somada à queda da taxa de desemprego e à desaceleração dos salários, sugere que o mercado de trabalho segue aquecido, mas em um ritmo saudável”, afirma.
Segundo ele, esse equilíbrio permite ao Federal Reserve manter os juros estáveis na reunião de julho, enquanto observa com cautela os próximos dados de atividade e inflação antes de decidir sobre possíveis cortes no segundo semestre.