O setor privado dos Estados Unidos surpreendeu negativamente em junho ao registrar o fechamento de 33 mil vagas de trabalho, conforme revelou o Relatório Nacional de Emprego da ADP, divulgado nesta quarta-feira (2). O número frustrou a expectativa do mercado, que projetava a criação de 99 mil empregos, e representa a primeira queda desde março de 2023, além de ser o resultado mais fraco desde fevereiro de 2022.
A leitura anterior de maio também foi revisada para baixo, de 37 mil para 29 mil postos. O desempenho fraco reforça os sinais de desaceleração gradual na atividade econômica dos EUA, às vésperas da divulgação do relatório oficial de emprego (payroll) do governo, prevista para quinta-feira (3), antecipado devido ao feriado do Dia da Independência.
“Essa contração mostra que há uma relutância das empresas em contratar e substituir trabalhadores, diante de um cenário de incertezas econômicas e geopolíticas”, destacou William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue.
Dados de emprego reforçam pressão sobre o Fed
O dado da ADP reacende a discussão sobre a possibilidade de flexibilização monetária por parte do Federal Reserve, mas os dirigentes do banco central americano seguem indicando que preferem aguardar novos dados de emprego e inflação antes de qualquer movimento.
Para William Castro Alves, apesar da fraqueza no número de vagas, o cenário ainda exige interpretação cuidadosa:
“O dado é ruim e coloca pressão sobre o Fed, mas o crescimento salarial segue razoável e não houve demissões generalizadas. A hesitação está nas novas contratações”, avalia o estrategista.
A economista-chefe da ADP, Nela Richardson, reforçou essa leitura ao afirmar que o dado reflete uma pausa nas contratações, e não um processo amplo de demissões. “As empresas estão mais cautelosas, mas os salários seguem crescendo.”
Setores de serviços lideram perdas de empregos; pequenas empresas mais afetadas
A queda no emprego foi puxada principalmente pelos setores de serviços, com destaque para:
- Serviços profissionais e empresariais: -56 mil vagas
- Educação e saúde: -52 mil
- Atividades financeiras: -14 mil
Na análise por porte, as pequenas empresas, especialmente as com menos de 20 funcionários, concentraram grande parte das perdas (-29 mil), enquanto empresas com mais de 500 funcionários apresentaram saldo positivo, com 30 mil vagas criadas.
Apesar do cenário adverso, o crescimento salarial anual se manteve relativamente estável:
- +4,4% para trabalhadores que permaneceram nos mesmos empregos
- +6,8% para os que mudaram de emprego (ligeiramente abaixo dos 7% de maio)
Mercado reage com cautela à piora nos dados de emprego
Mesmo diante do dado fraco, os títulos do Tesouro americano (yields) se recuperaram das quedas recentes, e o dólar se valorizou levemente, negociado a R$ 5,47 frente ao real. Já os índices acionários operavam próximos da estabilidade, com os investidores à espera do relatório oficial do Departamento do Trabalho.
“O número eleva a ansiedade para o payroll. Se a fraqueza se repetir no dado oficial, pode mudar a percepção do mercado sobre o timing de corte de juros nos EUA”, conclui William.
Payroll será o próximo teste para avaliar tendência do emprego americano
O relatório oficial de empregos será divulgado nesta quinta-feira (3). A expectativa dos analistas é de:
- 110 mil empregos criados fora do setor agrícola
- Taxa de desemprego em leve alta, passando de 4,2% para 4,3%
O mercado espera que esse dado traga indicações mais claras sobre a saúde do mercado de trabalho americano e sobre os próximos passos da política monetária do Fed.