O Plano Safra 2025/2026 voltado à agricultura familiar foi lançado com um volume recorde de R$ 89 bilhões em recursos, dos quais R$ 78,2 bilhões são destinados ao Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). No entanto, especialistas alertam que, apesar da cifra expressiva, o custo por hectare subiu tanto que o crédito pode perder sua efetividade.
De acordo com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), o aumento nos preços de fertilizantes, sementes, defensivos e combustíveis exige um investimento muito maior por hectare. Mesmo com juros nominais entre 0,5% e 8% ao ano, o custo efetivo total das operações pode atingir até 18% ao ano, quando se incluem seguros obrigatórios, taxas bancárias e exigências burocráticas.
“O produtor rural está diante de uma contradição: recebe mais crédito no papel, mas tem menos capacidade produtiva real”, avalia Miguel Daoud, analista de economia e política. “O Plano Safra precisa considerar a inflação agrícola. Senão, o impacto na ponta será frustrante.”
Custo por hectare compromete alcance do Plano Safra
Enquanto o governo comemora os R$ 89 bilhões anunciados no Plano Safra, no campo o sentimento é de incerteza. Muitos produtores familiares relatam que, para manter ou ampliar a produção, será necessário reduzir a área plantada, adiar investimentos em tecnologia ou usar capital próprio.
“Não adianta anunciar bilhões se o valor por hectare não cobre o custo real da produção”, reforça Daoud. “Sem isso, o produtor se endivida e corre mais riscos.”
Plano Safra: juros baixos continuam, mas com alcance limitado
O Plano Safra 2025/2026 manteve juros subsidiados de 2% a 3% ao ano para atividades prioritárias, como agricultura orgânica, produção de alimentos da cesta básica e agroecologia. Já cultivos como milho, soja e café terão acesso a linhas com taxas de até 8% ao ano.
Para viabilizar essa política, o governo destinará R$ 43,4 bilhões em equalização de juros, valor ligeiramente inferior ao da edição passada. Em meio a uma Selic de 15% ao ano e ao cenário de restrição fiscal, a capacidade de manter esses subsídios pode ser limitada.
Novos programas do Plano Safra enfrentam gargalos antigos
Além do crédito, o Plano Safra traz novidades como:
- Criação do Pronara (Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos);
- Maior integração com políticas públicas de compras institucionais;
- Ampliação da assistência técnica via Sebrae e Emater.
No entanto, problemas estruturais persistem, como burocracia, exigência de garantias e lentidão no repasse dos recursos. Esses entraves dificultam o acesso ao crédito, principalmente entre os pequenos agricultores em regiões mais vulneráveis.
“O governo precisa desburocratizar o acesso. O Plano Safra, para ser eficaz, precisa chegar de forma simples e rápida ao produtor”, afirma Daoud.
Otimismo político contrasta com dificuldades práticas
Durante o evento de lançamento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou: “Tudo o que se planta no Brasil dá”. No entanto, produtores argumentam que não é o volume total anunciado que importa, mas quanto conseguem financiar por hectare, e se isso cobre os custos da lavoura.
“O Plano Safra virou peça de marketing. Mas na prática, se o produtor não conseguir plantar com segurança, o recorde de recursos não significa nada”, critica Daoud.
Plano Safra e a Agricultura Familiar
O Plano Safra 2025/2026 reafirma o compromisso do governo com a agricultura familiar, ampliando os recursos e trazendo novos programas. Contudo, o aumento do custo por hectare, somado à burocracia e ao custo efetivo elevado, levanta dúvidas sobre o impacto real no campo.
Na avaliação de Miguel Daoud, o desafio agora é fazer com que o Plano Safra deixe de ser apenas uma meta fiscal ou política, e se torne de fato um instrumento de produtividade e sustentabilidade para quem está na base da produção agrícola brasileira.