As contas externas do Brasil registraram um déficit de US$ 2,93 bilhões em maio de 2025, o maior saldo negativo para o mês desde 2022. O resultado representa uma alta de 16,3% em relação a maio de 2024 e reflete a combinação de uma queda no superávit da balança comercial, que recuou para US$ 6,62 bilhões, e déficits persistentes em serviços (US$ 4,71 bilhões) e renda primária (US$ 5,15 bilhões). No acumulado de 12 meses, as transações correntes apresentaram saldo negativo de US$ 69,4 bilhões, o equivalente a 3,26% do PIB, um avanço em relação aos 1,3% do PIB registrados no mesmo período de 2024.
Apesar do aumento no déficit, o resultado foi parcialmente compensado pelo desempenho do Investimento Direto no País (IDP), que somou US$ 3,7 bilhões em maio, acima dos US$ 3 bilhões observados no mesmo mês do ano anterior. No acumulado de 12 meses, o IDP alcançou US$ 70,5 bilhões (3,31% do PIB), superando o saldo negativo externo no mesmo período. Esses dados indicam que, embora a conta corrente siga pressionada, o ingresso de capital estrangeiro produtivo tem funcionado como um importante contrapeso.
Déficit no radar: balança comercial perde força e saída de capitais preocupa
O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, avalia que o resultado das contas externas em maio surpreendeu positivamente em relação às suas projeções, mas ainda assim revela sinais de alerta fiscal. Segundo ele, a estimativa era de um déficit superior a US$ 5 bilhões, mas o número final ficou em US$ 2,93 bilhões. O economista destaca que o que mais preocupa é a tendência de crescimento do déficit no acumulado do ano, reflexo da queda no saldo da balança comercial, pressionada pela desaceleração das principais economias parceiras do Brasil, como Estados Unidos, China e o próprio mercado interno.
“A balança comercial vem perdendo fôlego em relação ao ano passado, com impacto direto no desempenho das transações correntes”, afirmou Agostini.
Na conta de serviços, o economista observa a manutenção de um déficit em torno de US$ 21,7 bilhões, patamar semelhante ao de 2024. Já na conta financeira, o destaque vai para o aumento das saídas líquidas de capital, movimento atribuído à combinação entre incertezas fiscais domésticas e a manutenção dos juros elevados nos EUA. Apesar de o investimento direto estrangeiro mostrar melhora em relação aos meses anteriores, a saída de recursos supera a entrada, ampliando o déficit financeiro.
“O mercado de capitais brasileiro segue atrativo pelos juros altos, mas o ambiente fiscal conturbado e o cenário internacional instável mantêm o investidor cauteloso”, explicou.
A relação entre transações correntes e PIB está em torno de 2,8%, percentual considerado administrável. Para o acumulado de 2025, a Austin Rating projeta um saldo negativo de US$ 57,7 bilhões nas transações correntes, o equivalente a 2,6% do PIB.
“Não há risco de solvência externa. As contas estão dentro das expectativas, e a capacidade de pagamento em moeda estrangeira segue preservada”, concluiu.