O governo federal decidiu congelar R$ 445 milhões do orçamento de 2025 destinado à subvenção do seguro rural, um corte que representa 42% dos recursos originalmente previstos para o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR). A decisão acontece justamente no momento em que o setor produtivo aguarda o anúncio do novo Plano Safra, aumentando a apreensão entre os produtores que enfrentam instabilidades climáticas, juros elevados e dificuldades de acesso ao crédito.
O orçamento total do PSR para 2025 seria de R$ 1,06 bilhão, no entanto, o governo determinou o bloqueio de R$ 354,6 milhões e um contingenciamento adicional de R$ 90,5 milhões, sob o argumento de necessidade de ajuste fiscal. O corte não foi comunicado oficialmente pela pasta e pegou de surpresa tanto a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) quanto a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), que esperavam, na verdade, um aumento expressivo na verba – em torno de R$ 4 bilhões – para atender à crescente demanda dos produtores por proteção contra perdas climáticas.
Em contrapartida, o governo liberou R$ 1,6 bilhão em emendas parlamentares, o que intensificou as críticas do setor produtivo. O comentarista de economia e política da BM&C News, Miguel Daud, classificou a medida como um erro estratégico e politicamente incoerente. “O governo está prejudicando o único setor que já vem sendo afetado por clima, por taxa de juros, por falta de recursos… e ainda vem cortar a verba daquilo que dá garantia aos financiamentos do produtor rural. Aí você não entende mais nada”, afirmou.
Ele também criticou a forma como a decisão foi tomada, sem aviso prévio e em um momento delicado para o agronegócio, especialmente diante das enchentes no Rio Grande do Sul. Ele comparou a situação atual às “sete pragas do Egito”, ironizando as sucessivas dificuldades enfrentadas pelo setor. “Nós temos a praga dos juros, a praga do governo cortando verba do seguro, a praga do clima… E o governo está fazendo o quê? Está liberando dinheiro pro Congresso”, disparou.
Para Daud, o episódio escancara um desequilíbrio entre as prioridades orçamentárias do governo e as necessidades reais do país. “Você tem um Congresso querendo gastar e não quer aumentar a tributação. E tem um governo que aumenta os gastos. Aí a gente começa a evoluir por uma trajetória da dívida que, em 2027, não vamos ter mais dinheiro para nada.”
A crítica mais contundente, no entanto, foi à postura dos parlamentares, principalmente daqueles eleitos por estados agroexportadores. Segundo Daud, falta coerência política entre o discurso público e a destinação dos recursos. “Gostaria de ver principalmente os parlamentares do Rio Grande do Sul dizendo: ‘As minhas emendas eu quero que sejam destinadas aos produtores que estão perdendo tudo.’ Vão apostar pra ver se vem alguém falando isso? Não vem.”
A subvenção ao seguro rural é considerada uma ferramenta essencial para garantir a segurança financeira dos produtores, especialmente em períodos de instabilidade climática e volatilidade nos preços dos insumos. O corte, portanto, afeta diretamente a capacidade do setor de manter sua sustentabilidade econômica e pode gerar efeitos indiretos sobre a oferta de alimentos e os índices de inflação.
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