A C&A Modas (CEAB3) oficializou, nesta segunda-feira (23), o fim de sua parceria com o Banco Bradesco (BBDC4) e a Bradescard, encerrando um ciclo de 14 anos de exclusividade na oferta de serviços financeiros. A decisão marca uma mudança estratégica para a varejista, que optou por retomar o controle total da sua operação financeira, com o objetivo de fortalecer sua atuação no setor.
Com a recompra dos direitos operacionais e a venda da carteira Bradescard, a C&A se prepara para explorar novas oportunidades de negócio, desenvolvendo soluções próprias e ampliando sua presença no mercado de crédito e consumo. O movimento foi bem recebido pelos investidores, refletindo uma percepção positiva sobre o potencial da companhia em integrar sua operação financeira ao modelo de negócios do varejo.
Impacto estratégico da autonomia financeira para a C&A
A decisão da C&A de encerrar sua parceria com o Bradesco e assumir o controle de sua operação financeira representa uma mudança estratégica profunda, que visa adaptar a companhia às novas demandas e dinâmicas do mercado de serviços financeiros. Paola Melo, sócia e analista da GTI, comenta que, ao abandonar o modelo tradicional de parceria bancária, a C&A busca alinhar seus serviços financeiros ao seu planejamento estratégico de forma mais flexível e assertiva. “A transição de um modelo focado exclusivamente no crédito para um programa de fidelidade mais robusto e personalizado pode, a longo prazo, gerar um impacto positivo na rentabilidade da empresa”, afirma Paola.
Ao adotar um modelo de negócios mais autônomo, a C&A ganha a liberdade de explorar diferentes tipos de parcerias com fintechs, bancos digitais e outros players do mercado, sem as limitações impostas pela exclusividade com o Bradesco. Paola destaca que, dessa forma, a varejista poderá integrar soluções financeiras mais inovadoras e adaptadas às necessidades dos consumidores, como programas de cashback e crédito direcionado, que oferecem mais valor para o cliente e aumentam a lealdade. “Esse movimento permite à C&A personalizar ainda mais a experiência do consumidor e potencializar suas vendas ao integrar esses serviços diretamente à plataforma da empresa, sem depender de um único parceiro”, explica Paola.
Embora o impacto imediato na rentabilidade da operação seja difícil de mensurar, a especialista acredita que, no longo prazo, essa autonomia será um diferencial competitivo importante. “Ter mais controle sobre os serviços financeiros e a flexibilidade de integrar novos parceiros permitirá à C&A construir um modelo de negócios mais adaptável às mudanças do mercado e mais alinhado com o seu posicionamento estratégico”, conclui Paola Melo.
Além da C&A: entenda os impactos para o Bradesco
De acordo com Carlos Daltozo, analista fundamentalista, o fim da parceria entre C&A e Bradesco ocorre em um momento estratégico e desafiador para os bancos, principalmente em um ciclo de juros elevados e aperto monetário. “Os bancos, em um cenário de juros altos, se tornam mais criteriosos na concessão de crédito, o que resulta em uma maior taxa de crédito negado, especialmente em parcerias com o varejo, onde os produtos financeiros oferecidos são frequentemente microcréditos”, afirma Daltozo.
Isso impacta diretamente a rentabilidade de parcerias como a que o Bradesco mantinha com a C&A, pois, ao reduzir a concessão de crédito, os bancos limitam a capacidade de consumo do cliente final, algo que os varejistas buscam expandir. Para o Bradesco, essa mudança significa a perda de uma fonte de receita ligada aos juros de microcréditos e ao volume de transações realizadas pela C&A. No entanto, Daltozo alerta que o maior risco para o banco é a necessidade de equilibrar a qualidade do crédito com as concessões, uma questão que se torna ainda mais delicada em um cenário de taxas de juros elevadas. “Caso os bancos favoreçam a venda de crédito de baixo risco, mas com menos rentabilidade, isso pode resultar em prejuízos no futuro, com provisões maiores”, explica o analista.
Apesar disso, a perda de um parceiro importante como a C&A também pode abrir espaço para o Bradesco explorar novas parcerias ou otimizar sua operação interna, como tem feito com outras empresas, como a Magazine Luiza, que recentemente contratou um CEO para sua operação bancária, dando mais controle sobre suas decisões financeiras.