Na última edição do Mercado & Beyond, Roberto Motta, estrategista macro da Genial Investimentos, trouxe à tona um tema crucial: o Brasil voltou a atrair a atenção de investidores globais, apesar de seus problemas fiscais, crescimento abaixo da média entre os emergentes e baixa previsibilidade institucional. Mas o que está por trás desse movimento? Para Motta, o Brasil está no centro de um paradoxo: enquanto a economia segue travada e o prêmio de risco continua elevado, a resiliência dos mercados locais alimenta a narrativa de uma oportunidade a ser explorada.
Cenário global impulsiona atração por ativos do Brasil
De acordo com Motta, a recuperação do interesse global pelo Brasil não está necessariamente ligada ao desempenho doméstico, mas sim a uma tendência global de busca por ativos descontados. “O mundo está começando a questionar a hegemonia dos ativos americanos e, com isso, o Brasil surge como uma alternativa viável“, afirma Motta. Ele observa que, após 15 anos de domínio do mercado americano, com os Estados Unidos como o grande consumidor mundial e a Ásia como o exportador, os investidores começaram a se questionar sobre a excessiva exposição aos ativos dos EUA. A política fiscal dos Estados Unidos e as recentes tensões com outros países, como Trump, também contribuíram para essa mudança de perspectiva.
Motta afirma que, com a queda do dólar e a diminuição da atratividade dos ativos americanos, os investidores passaram a buscar alternativas em mercados emergentes. E o Brasil, com sua economia resiliente e commodities em alta, se tornou um ponto de interesse.
A força da narrativa brasileira no nercado global
O Brasil tem se beneficiado do movimento global de diversificação. De acordo com Motta, o país está em uma posição favorável no cenário internacional, com ativos brasileiros extremamente descontados, atraindo investidores estrangeiros que buscam oportunidades no curto e longo prazo. Motta destaca que a diminuição do fluxo de capital para os Estados Unidos e o enfraquecimento do dólar contribuíram para a reavaliação dos investidores.
Ele observa que, embora o o país não esteja crescendo como outros emergentes asiáticos, o país tem se mostrado resiliente, e isso chamou a atenção dos investidores. “O Brasil está começando a ser visto novamente como uma oportunidade, mesmo que, internamente, os desafios fiscais ainda sejam graves“, afirma o estrategista.
O papel da política interna e a alternância de poder
Para Motta, a alternância de poder no Brasil tem sido um ponto importante na atração de investidores. Embora o mercado ainda tenha receios em relação a questões fiscais, a percepção de que o Brasil é uma economia vibrante e resiliente tem se fortalecido. Motta acredita que a alternância de poder no Brasil não está sendo precificada adequadamente pelos investidores, mas reforça que, mesmo em um cenário de desafios fiscais, o Brasil apresenta vantagens comparativas que fazem com que os ativos brasileiros continuem atraentes.
“A narrativa do Brasil está se construindo com base no movimento global. Não é que o Brasil esteja, de fato, ‘bem’, mas sim que o país é uma oportunidade no meio da busca por alternativas ao dólar e aos ativos americanos,” afirma Motta.
Desafios fiscais e o mercado local: O paradoxo da renda fixa no Brasil
O Brasil ainda enfrenta problemas fiscais significativos, com juros elevados e um cenário de crescimento abaixo do ideal. Para Motta, o mercado de renda fixa brasileira segue atraente para muitos investidores, mas essa estratégia defensiva de alguns investidores não é suficiente para dar conta da falta de crescimento na economia real.
“O Brasil tem uma performance sólida na renda fixa, mas está claramente perdendo o fôlego quando se trata de alavancar o crescimento econômico real. Mesmo com juros elevados, o Brasil é visto como uma boa oportunidade para quem busca retorno sem risco”, analisa Motta.
O Brasil está preparado para enfrentar os riscos externos?
Apesar das perspectivas de oportunidade, Motta alerta para a vulnerabilidade do Brasil a choques externos, como uma possível retomada da força do dólar ou uma reaceleração da economia americana. “Ainda estamos expostos ao impacto de movimentos globais, e um ciclo de alta do dólar poderia prejudicar a atratividade dos ativos brasileiros.”
Entretanto, ele acredita que o Brasil ainda possui uma posição estratégica no mapa de investimentos globais. A combinação de uma economia diversificada, grandes reservas de commodities e uma população crescente faz com que o país continue sendo uma peça-chave na estratégia de diversificação dos investidores internacionais.
O Brasil como oportunidade de médio e longo prazo
A análise de Roberto Motta aponta que, enquanto o Brasil enfrenta desafios internos, a diminuição do fluxo de capital para os Estados Unidos, a queda do dólar e a diversificação dos portfólios globais têm tornado os ativos brasileiros mais atrativos. Para Motta, o país continua a ser uma oportunidade de investimento, principalmente à medida que o mundo se ajusta a um dólar mais fraco e busca alternativas para os ativos americanos.