O agravamento do conflito no Oriente Médio, com a entrada dos Estados Unidos no embate entre Irã e Israel, elevou a tensão nos mercados globais. Embora o risco de uma ruptura generalizada ainda seja considerado limitado no curto prazo, os especialistas apontam efeitos econômicos relevantes e disseminados que já começam a ser percebidos em diferentes segmentos do petróleo ao crédito corporativo.
Segundo Igor Lucena, economista e doutor em Relações Internacionais, um dos principais pontos de atenção é o efeito em cadeia gerado sobre o transporte e os seguros internacionais. “Mesmo que o Estreito de Ormuz não seja fechado, apenas o aumento da tensão regional já pressiona os custos logísticos e os prêmios de seguro. Como os sistemas de resseguro são interligados globalmente, isso pode gerar aumentos de custo também em outros setores fora do petróleo”, avalia.
Lucena destaca ainda que o impacto no Brasil pode ser ambíguo. “Se o barril subir de forma prolongada, pode haver pressão inflacionária, mas também aumento de arrecadação com royalties, o que aliviaria o déficit fiscal no curto prazo”, diz. Mas Igor Lucena destaca que, “é uma possibilidade real, mas tudo isso depende de quanto tempo esse conflito vai continuar a existir“.
Conflito no Irã: petróleo volátil e sem tendência clara
A reação do petróleo nos mercados nas últimas 24 horas ilustra o clima de volatilidade sem direção definida. De acordo com Marco Saravalle, CIO da MSX Invest, o mercado oscilou bastante após o ataque dos EUA ao Irã, mas voltou a se estabilizar.
“No domingo à noite, o petróleo disparou e chegou perto dos US$ 80. Mas hoje, já vemos o Brent perto de US$ 75, com os mercados reagindo de forma mais racional”, explica Saravalle. “Há uma leitura de que o conflito pode ser contido e que Estados Unidos e outras potências não têm interesse em gerar uma nova onda inflacionária por causa do petróleo.”
Apesar do alívio momentâneo, ele reforça que o mercado continua monitorando o risco de uma escalada militar, que poderia levar o barril a ultrapassar os US$ 100, cenário que pressionaria juros e prejudicaria o crescimento global.
Escalada no Irã: crédito mais caro e novas oportunidades em ativos estressados
Para o setor corporativo, especialmente no Brasil, os efeitos da tensão geopolítica já começam a afetar o acesso ao crédito. Segundo André Matos, CEO da MA7 Negócios, a alta no petróleo tende a exigir posturas mais conservadoras dos bancos centrais, dificultando o ambiente para empresas mais alavancadas.
“Uma alta prolongada nos preços de energia eleva os custos e encarece o crédito, o que afeta principalmente negócios com margens apertadas”, avalia. Por outro lado, o executivo vê oportunidades na compra de ativos estressados e na reestruturação de carteiras inadimplentes. “O cenário aumenta a demanda por especialistas em recuperação de crédito e gestão de passivos.”
Escalada no Irã pressiona energia e inflação
Na avaliação de Volnei Eyng, CEO da Multiplike, a ameaça ao fluxo de petróleo pelo Estreito de Ormuz é um dos maiores riscos geopolíticos da atualidade. “Se houver uma interrupção prolongada na oferta, teremos pressão inflacionária de segunda ordem em diversos setores da economia global”, alerta.
Segundo ele, o impacto não se restringe ao preço do barril. “Cadeias produtivas inteiras seriam afetadas, do transporte de insumos à produção industrial, o que limita a capacidade de os bancos centrais reduzirem juros e complica o cenário de crescimento”, explica Eyng.
Ele recomenda atenção por parte de investidores e gestores. “É hora de revisar a exposição a setores sensíveis ao custo da energia e considerar uma estratégia mais defensiva no portfólio”, afirma.