Pesquisa do Datafolha divulgada ontem mostra que 57% dos brasileiros apoiam a reeleição para cargos do Executivo (presidente, governador e prefeito). Isso ocorre enquanto o mesmo instituto aponta que 50% dos cidadãos desaprovam a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Dez anos atrás, no entanto, houve uma pesquisa com o mesmo teor. Em junho de 2015, 67% dos entrevistados se manifestaram contrários à possibilidade de reeleição. Naquela época, o índice de desaprovação da presidente Dilma Rousseff era de 65%.
Ou seja, antes a impopularidade de Dilma impulsionava a opinião pública contra a reeleição; agora, Lula é impopular (menos que sua colega de partido, é verdade), mas os brasileiros não rejeitam o mecanismo que permite os políticos se reelegerem.
O que mudou na última década?
O cenário político sofreu inúmeras transformações de lá para cá. Mas houve um fenômeno que sacudiu totalmente o comportamento dos eleitores: a polarização que dividiu a nação entre esquerda e direita.
Com a Operação Lava Jato, explodiu um sentimento antipetista – e a prisão de Lula, acusado de corrupção, acabou por consolidar essa rejeição. Em paralelo, os conservadores perderam a vergonha de assumir suas posições políticos e defender princípios da direita. Por fim, o desgaste provocado por três mandatos e meio do PT acabaram por enfraquecer a esquerda. Entre 2014 e 2018, a combinação destes três fatores acabaram por contribuir para a vitória daquele que melhor representava a antítese aos petistas: Jair Bolsonaro.
A polarização, desta forma, se consolidaria como a principal força motriz da política brasileira. Num primeiro momento, tal fenômeno se concentrou nos principais líderes ideológicos: Lula e Bolsonaro. De um tempo para cá, contudo, a polarização se manifesta mais em ideias do que em nomes. Tanto que, antes, Lula vencia por grande margem qualquer nome da direita (menos Bolsonaro) em enquetes de intenção de voto. Hoje, empata com cinco dos candidatos conservadores.
Com essa configuração, os brasileiros puderam analisar a reeleição sem ligá-la diretamente à figura de uma liderança – como ocorreu com Dilma Rousseff em 2015. Hoje, provavelmente os brasileiros olham para esse mecanismo de um modo mais neutro (daí 57% dos brasileiros serem favoráveis à reeleição).
Curiosamente, os representantes da sociedade estão se movimentando no sentido contrário, o de acabar com a reeleição. Uma PEC de autoria do senador Jorge Kajuru já foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado em maio e agora aguarda votação no plenário da Casa.
Talvez fosse o caso de se colocar essa decisão nos ombros do eleitorado, através de um plebiscito. Somente assim saberíamos com certeza o que pensa a população sobre o tema e teríamos uma decisão soberana e inatacável.