A escalada de tensões no Oriente Médio reacendeu temores sobre o possível fechamento do Estreito de Ormuz, rota por onde passa cerca de 20% de todo o petróleo exportado no mundo. Embora essa hipótese seja vista por especialistas como altamente prejudicial para o próprio Irã, o cenário de conflito extremo pode abrir espaço para decisões radicais.
Segundo o mestre em Direito Internacional Manuel Furriela, o fechamento do estreito representaria um “suicídio econômico” para o Irã, que também depende dessa rota para escoar boa parte de sua produção. “Se o governo iraniano estiver encurralado e sem alternativas, pode adotar medidas extremas, inclusive fechar o estreito ou atacar bases americanas na região”, avaliou em entrevista à BM&C News.
Possível fechamento do estreito de Ormuz e os impactos globais
Furriela destaca que, apesar da retórica agressiva, o bloqueio total de Ormuz envolveria um alto custo político e econômico para o próprio Irã. Além de prejudicar seus parceiros estratégicos como a China, maior compradora do petróleo que passa pela região, a medida agravaria a já delicada situação econômica interna.
Contudo, mesmo sem um bloqueio efetivo, a instabilidade já tem reflexos relevantes. “A simples ameaça já pressiona os mercados, encarece os seguros de transporte e pode elevar bruscamente os preços do petróleo no curto prazo”, disse.
Para o Brasil, que vive um momento de inflação ainda pressionada e desaceleração econômica, uma alta nos combustíveis teria efeito direto sobre os preços e ampliaria o desafio do Banco Central. “Esse tipo de impacto externo complica ainda mais a condução da política monetária, principalmente quando já há uma inflação residual ligada a questões fiscais internas”, alertou.
Estreito de Ormuz: União Europeia pode ter papel de mediação, mas cenário é delicado
Questionado sobre uma possível mediação internacional, Furriela aponta que a União Europeia é hoje o ator mais viável para tentar recompor um diálogo com o Irã. “França e outros países europeus mantiveram, nos últimos anos, um canal de conversa ativo com Teerã. Inclusive, foi a União Europeia que viabilizou o antigo acordo nuclear, assinado por Obama e depois revogado por Trump”, explicou.
No entanto, o especialista reconhece que a chance de uma solução diplomática no curto prazo é remota, especialmente após os recentes bombardeios. “A Rússia está envolvida com a guerra na Ucrânia, e os EUA romperam o canal diplomático direto após os ataques. Isso limita muito as possibilidades de intermediação.”
Investidores buscam ativos seguros e Brasil pode sair perdendo com possível fechamento de Ormuz
Além dos efeitos diretos sobre o petróleo, Furriela também chama atenção para a reação dos mercados internacionais diante de conflitos: os investidores tendem a buscar ativos considerados mais seguros, como títulos do governo americano.
“Países com maior risco fiscal ou instabilidade política, como o Brasil, acabam ficando de fora dessa rota de investimentos em momentos como esse. Isso pode reduzir o fluxo de capital estrangeiro e afetar nossa economia de forma indireta, mas persistente”, pontuou.