A decisão do Federal Reserve (Fed) de manter os juros entre 4,25% e 4,50% nesta semana não surpreendeu o mercado. No entanto, o que chamou atenção foram os ajustes nas projeções econômicas para 2025, que reacenderam um antigo fantasma da política monetária: a estagflação.
Segundo William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, a mudança mais significativa no comunicado do Fed foi o tom mais claro sobre as incertezas da economia. “O Fed reconheceu que as incertezas diminuíram, mas ainda permanecem elevadas”, afirmou. O Banco Central norte-americano reduziu sua estimativa de crescimento do PIB de 1,7% para 1,4%, enquanto a projeção para a inflação subiu de 2,7% para 3%.
“Esses ajustes são indicativos de um cenário que pode ser cada vez mais caracterizado como estagflação”, analisou Alves.
Afinal, o que é estagflação e por que ela preocupa tanto?
O analista Sidney Lima, da Ouro Preto Investimentos, explica que a estagflação combina três elementos complexos:
- Inflação elevada;
- Crescimento estagnado ou recessivo;
- Alta no desemprego.
“É um dos cenários mais desafiadores para a política econômica porque as soluções para combater a inflação tendem a piorar o desemprego e o crescimento, e vice-versa”, destacou Lima.
Ou seja, se os bancos centrais aumentam os juros para controlar os preços, acabam travando ainda mais o crescimento. Se cortam juros para estimular a atividade, correm o risco de alimentar a inflação.
Brasil pode viver estagflação? Sidney Lima relembra década de 1980
O risco de estagflação não se limita aos Estados Unidos. Segundo Sidney Lima, o Brasil já enfrentou um cenário semelhante na década de 1980, durante a chamada década perdida, com inflação descontrolada, baixo crescimento e alto desemprego.
“Hoje, o risco existe se o país não conseguir controlar a inflação e ao mesmo tempo mantiver um crescimento fraco, com o mercado de trabalho dando sinais de enfraquecimento”, alertou o analista.
Como os bancos centrais reagem à estagflação?
Lima explica que, diante de um quadro de estagflação, as autoridades monetárias priorizam o combate à inflação, mesmo que isso represente um custo elevado à economia.
“Normalmente, o foco é conter a inflação, mantendo os juros altos, porque o descontrole dos preços é visto como o problema mais grave”, afirmou.