As recentes declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugerindo uma possível intervenção militar no Irã, acenderam o alerta sobre uma eventual escalada no conflito no Oriente Médio. No entanto, o impacto imediato nos mercados foi surpreendentemente contido. Em entrevista à BM&C News, o economista Bruno Musa, sócio da Acqua Vero, avaliou que o mercado global parece estar “anestesiado”, com ativos operando perto das máximas e sem sinais de aversão generalizada ao risco.
“Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, vimos uma forte reação nos mercados. Agora, mesmo com uma possível ação dos EUA contra o Irã, os índices seguem firmes, o petróleo subiu pouco, e o dólar está perdendo força”, observou Musa.
Estreito de Ormuz é o ponto crítico, mas bloqueio parece improvável
Musa alertou que, embora o mercado esteja calmo, o principal risco econômico em caso de intensificação do conflito seria o bloqueio do Estreito de Ormuz, por onde passa grande parte do petróleo exportado no mundo. Uma ação dessa natureza teria forte impacto logístico e pressionaria os preços globais do petróleo, elevando o risco inflacionário — inclusive para o Brasil.
“O Brasil não depende diretamente do petróleo iraniano, mas os preços são em dólar. Se o petróleo dispara, a inflação por aqui também sente”, explicou.
Apesar disso, o economista considera improvável que o Irã feche o estreito, dada sua fragilidade econômica e os acordos geopolíticos que envolvem a região. O Irã já enfrenta inflação acima de 40% e grande insatisfação interna, o que tornaria o cenário ainda mais insustentável caso optasse por um confronto direto com consequências logísticas globais.
Mercado aposta em conflito breve e sem grande disrupção
Na visão de Bruno Musa, os mercados parecem precificar que um eventual ataque dos EUA ao Irã não se prolongaria por muito tempo, e que o Irã não tem capacidade bélica nem apoio regional suficiente para sustentar um conflito em larga escala.
“Me parece que os mercados estão apostando que, se os EUA entrarem, a guerra acaba rápido. E isso ajuda a explicar o comportamento mais calmo dos ativos”, concluiu.
Com o índice DXY (dólar contra cesta de moedas) operando abaixo de 99 pontos e o real abaixo de R$ 5,50, o cenário permanece de expectativa contida, mas ainda sujeito a reprecificações rápidas caso a situação no Oriente Médio mude de direção.