Lembro que, em 1995, conversando com um amigo de pregão, ele me alertava sobre a dominância das ordens eletrônicas que se expandiam no mercado asiático. Cinco anos depois, fui convidado pela extinta BMF&F para testar uma plataforma rústica e precária, enviando ordens nos mercados futuros de dólar e índice. Nessa época, os mini contratos ainda não existiam.
Após nove anos, o mercado brasileiro cedeu à nova realidade e o pregão sucumbiu. Confesso que a adaptação não foi fácil. Os algoritmos deixavam uma falsa impressão de movimentos que antes eram observados com mais facilidade. O chamado Tape Reading tirou o feeling que estávamos acostumados a captar com uma simples entonação de voz dos bravos operadores do floor. Pode-se até dizer que havia um Face Reading, uma pequena analogia de termômetro para a compreensão das eternas oscilações.
Enfim… todos se renderam ao mundo das operações tecnológicas e houve uma enxurrada de novos aspirantes a Warren Buffett. Como não poderia ser diferente, em quase sua totalidade, quebraram a cara (e a conta) acreditando que o mercado financeiro se resumia a apertar botões e interpretar padrões.
Acha que parou por aí? A coisa piorou de vez quando descobriram uma máquina de fazer dinheiro chamada “arrasta pra cima”. Quero ressaltar que não tenho nada contra quem defende seu pão de cada dia. De verdade, até gostei, porque toda essa galera estava levando o mercado para todos, sem distinção de idade, classe social ou capital financeiro. Minha única ressalva é: com que base? Com qual experiência? Com que cuidado ao alavancar?
Tudo passou a ser uma aposta e não mais uma análise prudente. Você acha que parou por aí? Enganou-se! No mundo do perde-e-perde, vieram as bets, como se algo divino pudesse definir vantagens para se obter lucro. “Meu Deus, que meu time vença de virada essa partida!” As apostas online têm destruído a renda de muitas famílias. Superam, de longe, a quantidade de investidores na B3, sendo sua maior concorrente, uma instituição que por anos construiu a maior bolsa da América Latina.
Agora chegaram os Copy Trades. Promessas de ganhos diários: “Largue seu emprego, fique rico comigo.” Não posso denegrir o produto, porque também tenho e faço das tripas o coração para performar e atender uma parte dos investidores mais arrojados, que aceitam tomar risco. O produto é bom! Mas vejo novamente um movimento de deturpação de valores — não morais, e sim financeiros.
Ainda acredito que esse movimento passará. E, quando os mesmos ilusionistas não conseguirem mais tirar suas cartas da manga, só restarão os que são de verdade.