O recente aumento nos preços do petróleo gerou preocupações sobre a possibilidade de um cenário ainda mais desafiador para a inflação global. Com o petróleo podendo atingir níveis próximos de US$ 120, as pressões inflacionárias podem voltar a ser um dos maiores obstáculos para os bancos centrais ao redor do mundo. Em entrevista ao BM&C News, o economista Bruno Corano analisou os potenciais impactos desse cenário e como os gestores devem se preparar para os efeitos no mercado.
Petróleo a US$ 120: o risco de pressões inflacionárias
A escalada nos preços do petróleo, como ocorreu durante a guerra da Ucrânia, trouxe à tona uma preocupação renovada sobre os efeitos da alta dos preços no combate à inflação. Corano destaca que, caso o petróleo ultrapasse a marca dos US$ 120, poderemos ver uma intensificação das pressões inflacionárias, exigindo uma atuação ainda mais cautelosa por parte dos bancos centrais.
“Se o petróleo atingir patamares elevados, os bancos centrais terão que trabalhar dobrado para controlar a inflação. O aumento nos custos de transporte e refino impacta diretamente a economia global, pressionando os preços e exacerbando os desafios enfrentados pelos gestores“, explica Corano.
O impacto geopolítico e a estabilidade do mercado de petróleo
Embora o aumento do petróleo seja uma preocupação para os bancos centrais, Corano observa que o cenário geopolítico também desempenha um papel fundamental na dinâmica dos preços. O recente envolvimento do Irã nas discussões sobre o aspecto nuclear pode impactar diretamente a estabilidade do mercado de petróleo, especialmente em relação às rotas de navegação vitais para o transporte do combustível.
O Irã, localizado em uma região estratégica, tem a capacidade de interromper rotas de navegação que transportam 1/3 do petróleo global, o que poderia causar um grande desequilíbrio no mercado. No entanto, Corano acredita que, apesar dessas preocupações, as chances de um conflito mais intenso que afete a produção de petróleo são pequenas, uma vez que o Irã demonstrou interesse em dialogar com os Estados Unidos sobre a situação nuclear.
“O risco maior para o mercado de petróleo não vem necessariamente de uma interrupção na produção, mas sim da possibilidade de um bloqueio no estreito de Ormuz, onde passa uma quantidade significativa de petróleo global. Contudo, com o Irã sinalizando sua disposição para negociações, acredito que o risco de uma escalada no conflito é reduzido“, afirma Corano.
Bancos Centrais e o desafio de controlar a inflação
Se o cenário geopolítico não resultar em uma escalada, os bancos centrais terão que lidar com os efeitos da alta do petróleo, que tende a ser um dos maiores responsáveis pelas pressões inflacionárias. Corano ressalta que os preços elevados do petróleo afetam diretamente o custo de vida, impactando desde os preços dos combustíveis até os custos de bens e serviços no comércio global.
“O desafio dos bancos centrais, diante de um cenário de petróleo caro, é equilibrar a necessidade de controlar a inflação sem sufocar a economia com taxas de juros elevadas. Eles precisarão estar ainda mais vigilantes, ajustando sua política monetária com base nos movimentos dos preços do petróleo e outros fatores externos“, explica Corano.
O cenário futuro: perspectivas para o preço do petróleo e a economia global
Apesar das incertezas, Corano acredita que o mercado de petróleo continuará a ser um fator crucial na dinâmica da economia global. A possibilidade de um petróleo mais caro traz tanto oportunidades quanto desafios para os mercados emergentes e desenvolvidos. Em especial, o Brasil, como um grande produtor de petróleo, pode ser afetado tanto pelas vantagens de preços mais altos quanto pelos riscos associados ao aumento nos custos de produção.
“É um cenário de incertezas, mas o que sabemos é que, enquanto o preço do petróleo continuar a subir, os desafios inflacionários também seguirão. Os investidores e os gestores precisam se preparar para esse ambiente instável e avaliar cuidadosamente suas estratégias para lidar com essas pressões externas“, conclui Corano.