O Brasil, com seu vasto mercado interno e recursos naturais abundantes, continua sendo um destino ambíguo para investidores globais. Em meio à complexidade geopolítica e econômica do cenário global, a questão que persiste é: o Brasil é capaz de superar seus gargalos históricos e se tornar realmente uma potência de investimento no longo prazo?
Em entrevista ao programa Mercado & Beyond, Mario Goulart, especialista em finanças e CEO de uma gestora no Brasil, compartilhou sua visão sobre o panorama atual e os desafios que o país enfrenta. A discussão abordou desde o impacto da infraestrutura deficiente até os obstáculos impostos pela insegurança jurídica, aspectos que, segundo Goulart, afastam os investidores estrangeiros e limitam o potencial de crescimento.
O mercado brasileiro: preço ou potencial?
Goulart afirmou que o Brasil, embora seja visto como um destino atraente por sua vasta oferta de commodities e recursos naturais, ainda é um país com problemas estruturais. A falta de eficiência na infraestrutura, especialmente nas ferrovias e portos, e a complexidade do sistema tributário e jurídico são alguns dos fatores que fazem com que o Brasil perca competitividade em comparação com outros países emergentes, como Índia e México.
“Ainda que o Brasil tenha um mercado interno robusto e recursos naturais abundantes, ele continua com grandes problemas de competitividade. O Brasil não aproveita o seu enorme potencial, especialmente na questão de logística e infraestrutura. Mesmo com avanços, ainda há uma enorme dependência de setores como o agro, o que poderia ser transformado em um motor mais robusto para a economia”, destacou Goulart.
O impacto da insegurança jurídica e a falta de planejamento
Outro ponto crucial destacado por Goulart foi a insegurança jurídica no Brasil, um fator que contribui para a aversão ao investimento. O especialista citou o exemplo das ferrovias, que, apesar de estarem no centro de uma potencial revolução na logística do país, enfrentam sérios obstáculos. A falta de continuidade e o emaranhado burocrático tornam o ambiente de negócios difícil e pouco atrativo para investidores estrangeiros.
“Hoje, o Brasil tem uma grande deficiência institucional. A insegurança jurídica e a burocracia travam o crescimento. Mesmo projetos de grande importância, como as ferrovias e o sistema portuário, não saem do papel por questões legais e políticas que parecem sempre retroceder no tempo”, afirmou.
A vontade política como agente de mudança
Goulart também mencionou que a mudança no Brasil precisa vir através de um alinhamento entre os setores público e privado, com foco na redução da burocracia e a implementação de reformas estruturais, como a tributária. No entanto, ele acredita que a falta de uma ação efetiva do governo e a persistência de um modelo econômico voltado para o gasto público impedem o avanço do país.
“Há muita vontade política para determinadas mudanças, mas falta eficiência na execução. Se houvesse mais ação prática e menos retórica, talvez o Brasil pudesse se destacar mais, principalmente em termos de infraestrutura”, comentou.
O Brasil no contexto global: desafios e oportunidades
Apesar dos desafios, Goulart vê um grande potencial no Brasil. Com o mercado interno gigantesco, uma das maiores produções de alimentos do mundo, e os avanços em setores como tecnologia e inovação, o Brasil continua sendo um lugar relevante para se investir. No entanto, o especialista alerta que o Brasil precisa agir rapidamente para se tornar uma plataforma mais confiável e atrativa para o capital global.
“Ao contrário de países como a Índia, que investiram pesadamente em educação e inovação tecnológica, o Brasil ainda está muito preso à sua matriz de commodities. Precisamos aproveitar nosso potencial para além do agronegócio e investir mais em tecnologia e inovação”, concluiu Goulart.
O caminho à frente
Em resumo, o Brasil enfrenta desafios imensos, mas ainda tem uma chance única de se destacar como uma potência de investimento. Para isso, será necessário eliminar os gargalos institucionais e garantir um ambiente mais favorável ao setor privado, além de buscar uma maior integração das infraestruturas do país, como as ferrovias e os portos.
Os investidores globais continuam de olho no Brasil, mas o país precisa agir com mais determinação para superar os obstáculos que ainda o impedem de alcançar seu pleno potencial.