A inflação brasileira deve enfrentar um novo vilão nos próximos meses: a conta de luz. Segundo Andrea Ângelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, o acionamento das termelétricas e a previsão de bandeiras tarifárias mais caras ao longo do segundo semestre colocam a energia elétrica como uma das principais pressões sobre o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) até o final do ano.
“Infelizmente, quando projetamos o cenário de bandeiras para os próximos meses, não é uma boa notícia. Estamos entrando no período seco, em que aumenta a probabilidade de acionamento das térmicas, elevando o custo da energia”, afirma Andrea.
Energia elétrica no radar: bandeira vermelha deve seguir até outubro
Com os reservatórios em níveis baixos e o fluxo de chuvas aquém do necessário, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já acionou a bandeira vermelha patamar 1 para junho. A expectativa da Warren é que em julho o patamar suba para bandeira vermelha 2 — ainda mais custosa para o consumidor — e permaneça nesse nível durante os meses de julho e agosto. A partir de setembro e outubro, deve haver uma leve melhora, com a bandeira retornando ao patamar 1, e apenas em dezembro é esperada alguma normalização.
“O impacto é direto. E sabemos que, quando a conta de energia sobe, esse aumento é repassado nos custos de bares, restaurantes e outros setores de serviços, impactando o IPCA de forma indireta também”, explica Andrea.
Alívio da gasolina será insuficiente para compensar aumento na energia
Por outro lado, a estrategista reconhece que o recente reajuste da Petrobras, que reduziu os preços da gasolina, pode trazer algum alívio pontual ao índice de inflação. O efeito, no entanto, será limitado diante da pressão das contas de luz.
“Mesmo com a queda da gasolina influenciando o IPCA de junho, o peso da energia será maior. O repasse nas tarifas de luz tende a ter um efeito mais duradouro e profundo no bolso dos consumidores”, pontua.
Fiscal sob vigilância e inflação ainda sensível
A fala de Andrea também dialoga com o momento delicado da política monetária no Brasil. Com a inflação ainda sensível a choques externos e internos, e com a pressão fiscal dificultando cortes adicionais na Selic, o Banco Central deve manter cautela em sua estratégia de juros.
“O cenário atual exige atenção redobrada. O ambiente é de fragilidade e, com energia pressionando a inflação, não há muito espaço para novos estímulos”, conclui.