A condução da política fiscal brasileira entrou em xeque. Segundo o economista Bruno Musa, sócio da Acqua Vero, o governo federal perdeu a capacidade de liderar a agenda econômica, e o Congresso passou a ditar os rumos das decisões fiscais no país.
Em entrevista à BM&C News, Musa afirmou que o Planalto tenta dividir a responsabilidade sobre o Orçamento com o Legislativo, como ocorreu na recente tentativa de adiar a regulamentação do IOF sobre investimentos. “Todos querem ditar a política fiscal, mas ninguém quer ser responsabilizado por ela“, criticou.
Para o especialista, a reação rápida do Congresso em suspender o avanço da medida revela que o Legislativo já articula uma política fiscal própria, diante da fragilidade do Executivo. “Não há mais confiança na condução econômica por parte do governo. O Haddad busca alternativas, muitas vezes por decreto, para aumentar a arrecadação, mas isso já está esgotado“, explicou.
Interesses em jogo e risco de colapso fiscal
Bruno Musa apontou ainda para o conflito de interesses dentro do próprio Congresso. “Quando se fala em responsabilidade fiscal, há um discurso público, mas a preocupação real com emendas parlamentares continua sendo prioridade“, disse.
O economista avalia que a manutenção de gastos e o adiamento de medidas impopulares — como o corte de despesas e a reoneração de tributos — podem comprometer seriamente a estabilidade das contas públicas. “Se o governo não aceita uma política de corte de gastos agora, o Legislativo terá que lidar com um país em crise em 2027. Isso não é interessante para ninguém“, alertou.
Segundo Musa, há indícios de que parte do Centrão já cogita se distanciar do governo atual. “Essa movimentação mostra que, sem ajuste fiscal, o custo político pode se tornar impagável — mesmo para os que hoje comandam a agenda no Congresso“, concluiu.