Mesmo com a recente desaceleração de alguns índices de preços, analistas alertam que a inflação no Brasil permanece resistente e ainda descolada do centro da meta. Segundo Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, apesar de uma leve melhora na margem, as medidas qualitativas da inflação seguem acima do desejado. “Nos últimos 12 meses, o índice recuou, passando de 5,49% para 5,40%, mas ainda se encontra acima do limite superior da meta de inflação“, destaca o economista.
A inflação de serviços — tradicionalmente mais inercial — continua como um dos principais vetores de pressão. Para Sung, a combinação entre consumo aquecido, hiato positivo do produto e reajustes em itens administrados impede um recuo mais robusto dos núcleos de preços.
Núcleos de inflação permanecem elevados e preocupam economistas
Os chamados núcleos da inflação, que excluem itens mais voláteis e ajudam a identificar a tendência real dos preços, continuam girando em níveis elevados. De acordo com Igor Cadilhac, economista do PicPay, “qualitativamente, o resultado foi melhor do que o esperado, mas os desafios permanecem. Apesar da estabilidade na margem, as principais métricas de núcleo seguem elevadas, girando em torno de 6% — considerando a média dos últimos três meses, em termos anualizados e dessazonalizados.”
Cadilhac destaca ainda que, embora haja algum alívio pontual, “o quadro segue com assimetria altista”, ou seja, os riscos estão mais concentrados em novas pressões de preços do que em quedas significativas no curto prazo.
Serviços e administrados seguem como vilões da inflação
Entre os principais componentes que seguem pressionando a inflação estão os serviços, medicamentos e tarifas públicas. A mudança da bandeira tarifária na energia elétrica, somada a reajustes autorizados em medicamentos, contribuiu para manter os preços em patamares elevados.
Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, observa que “mesmo com a desaceleração na margem de alguns serviços e alimentos, os núcleos continuam pressionados em 12 meses, especialmente no grupo de serviços”.
Ele chama atenção para a persistência da inflação estrutural, com destaque para gastos com saúde, vestuário e serviços relacionados ao consumo urbano. “São pressões que não cedem rapidamente e que desafiam a política monetária”, afirma.
“A surpresa positiva veio das deflações nos preços de eletrodomésticos e passagens aéreas, além da menor pressão dos segmentos de serviços e alimentos.“, completa Costa.
Juros devem seguir em patamar elevado
Diante desse cenário, os especialistas não veem espaço para cortes imediatos na taxa básica de juros. Para Luciano Costa, da Monte Bravo, a tendência é de manutenção da Selic por um período mais longo. “Resultado reforça cenário de estabilidade da taxa de juros na reunião do Copom de junho, com a taxa Selic mantida em 14,75% por um período prolongado.”, afirma.