O maior ataque aéreo da guerra na Ucrânia até agora, realizado por forças da Rússia com mísseis e drones por três noites consecutivas, provocou fortes reações no cenário internacional. Para o economista e doutor em Relações Internacionais Igor Lucena, o movimento reflete uma tentativa clara do presidente Vladimir Putin de prolongar a ofensiva militar e ampliar sua presença territorial — mesmo diante de crescentes pressões internas e externas.
“Há uma visão clara de que ele não quer um acordo de paz. Ele quer continuar a conquista de território o máximo possível. Mas até mesmo dentro da Rússia a situação econômica está ficando fora de controle”, afirmou Lucena em entrevista à BM&C News.
O especialista avalia que o país caminha para um cenário de estagflação — combinação de estagnação econômica com inflação —, o que tende a gerar desgaste político interno. A falha na tomada de Kiev, por exemplo, já começa a ser vista como um projeto militar fracassado, com consequências para a liderança de Putin dentro da própria Rússia.
“A não conquista de Kiev pode colocar a sua liderança em xeque. É um projeto que custou vidas e a reputação russa, e isso tem peso”, destaca.
Sanções indiretas contra a Rússia ameaçam triangulação de petróleo russo
Além da crise interna, as novas propostas de sanções dos Estados Unidos ampliam o cerco à economia russa. O projeto de lei em análise no Senado americano prevê tarifas de 500% sobre produtos de países que comprarem petróleo, derivados, gás natural ou urânio russos, em uma tentativa de desestimular a triangulação de recursos energéticos com parceiros indiretos de Moscou.
“A Rússia sobrevive hoje por meio de triangulações. Ela vende petróleo para Índia ou Brasil, que o refinam e revendem ao mercado. O diesel que consumimos no Brasil hoje é majoritariamente russo. Se os EUA sancionarem também esses países, aí sim teremos um estrangulamento real da economia russa”, explica Lucena.
Rússia em isolamento?
Na avaliação do economista, o posicionamento do presidente dos EUA, Donald Trump, ao afirmar que “Putin enlouqueceu” e sugerir novas sanções, representa uma pressão direta ao governo russo — mas também uma sinalização ao restante do mundo de que até os que buscaram se manter neutros começam a rever suas posições.
“É uma amostra de que a estratégia de Putin está chegando a um limite. Ele começa a perder apoio até mesmo de países considerados neutros, que agora reconhecem que ele não quer a paz”, afirma Lucena.
Para o especialista, os próximos meses serão decisivos não apenas no campo de batalha, mas na arena diplomática e econômica, onde a resistência global ao modelo de guerra prolongada da Rússia tende a se intensificar.