As novas investidas militares da Rússia contra a Ucrânia voltaram a chamar atenção do noticiário global, especialmente após falas incisivas de Donald Trump e rumores de um novo pacote de sanções dos Estados Unidos contra Moscou. No entanto, para o mercado financeiro, não há sinais de que o conflito, em seu estágio atual, represente um gatilho imediato para reprecificação de ativos.
Segundo o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, o cenário de uma guerra prolongada e sem avanços territoriais relevantes já está amplamente precificado pelos investidores. “O mercado só vai reagir se a Rússia invadir um novo país ou conseguir tomar um território novo com relevância estratégica. O que vemos hoje é uma guerra de trincheiras, sem grandes mudanças”, afirma.
Sanções à Rússia só teriam efeito real se atingissem os compradores
Cruz também destaca que as sanções econômicas adicionais, como as sugeridas pelo Senado dos EUA, têm efeito limitado se não atingirem diretamente os países que seguem comprando petróleo, gás e derivados da Rússia — como Índia, China e até o Brasil, por meio de diesel refinado. “A sanção teria que ser nos compradores, para realmente ter algum efeito diferente agora. Mas não vejo os Estados Unidos ou a Europa com força política para inverter essa ordem. Eles vão continuar comprando”, avalia.
Com isso, o especialista acredita que, no curto prazo, não haverá reação expressiva nos preços do petróleo ou no fluxo de capital internacional, salvo em caso de uma virada mais drástica no campo de batalha ou nas relações diplomáticas. A leitura é de que os grandes investidores já ajustaram suas estratégias para um conflito estável, porém prolongado.
Falas de Trump contra Rússia funcionam mais como sinal político
As declarações recentes do presidente Donald Trump, que chamou Putin de “enlouquecido” e sugeriu novas sanções duras contra a Rússia, também são vistas com ressalvas. Para Gustavo Cruz, essas falas têm pouco impacto direto nos mercados e funcionam mais como sinalizações políticas de campanha do que como medidas com efeito imediato sobre ativos.
“Esse tipo de discurso não altera fundamentos. A não ser que venha acompanhado de ações concretas — o que, no momento, não parece provável —, o impacto é limitado”, conclui o estrategista.